O Brasil perdeu no finzinho de 2023 um de seus esportistas mais importantes na área do automobilismo. Morreu Gil de Ferran, piloto bicampeão da Fórmula Indy em 2000 e 2001, além de vencedor das 500 Milhas de Indianápolis de 2003. Ele tinha 56 anos.
A informação da morte de Ferran começou a circular entre pessoas ligadas ao automobilismo na noite desta sexta-feira (29) e foi confirmada por pessoas próximas ao piloto em grupos nas redes sociais.
Ele teria sofrido uma parada cardíaca enquanto guiava um carro esportivo com o filho no banco do passageiro no circuito de Concours Club, em Miami, no estado americano da Flórida. Mais detalhes sobre o episódio não foram detalhados.
Nascido em novembro de 1967, em Paris (França), Gil de Ferran era francês naturalizado brasileiro. Filho dos brasileiros Luc Henri e Maria Lúcia, Gil se chamava assim mesmo. Seu nome profissional não era um apelido.
O pai, um engenheiro mecânico, trabalhava na Ford e atuava no desenvolvimento do Corcel de primeira geração na França, na época em que sua esposa engravidou. Isso porque o Corcel I deriva diretamente do projeto Renault 12. Por isso, Gil nasceu fora do Brasil.
Luc, aliás, teve longa carreira na indústria automobilística brasileira. Sempre trabalhando pela Ford, chegou a participar da criação da fábrica da marca americana em Camaçari (BA) e do Ecosport. Também atuou no ProÁlcool, o programa brasileiro de incentivo ao uso do etanol durante a crise do petróleo nos anos 1970, e ajudou a fundar a SAE Brasil (Sociedade Brasileira de Engenheiros da Mobilidade) e o IQA (Instituto Nacional da Qualidade Automotiva). Foi, ainda, consultor da Troller.
Luc também foi engenheiro da lendária esquadra Willys, que dominava as competições automobilísticas brasileiras nos anos 1960. E foi nesse ambiente de graxa e velocidade que Gil de Ferran cresceu, tomando gosto pelo automobilismo. Ganhou seu primeiro kart aos cinco anos e, no fim dos anos 1980, após competir em categorias de base no Brasil, rumou à Europa para tentar trilhar os caminhos de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna.
Foi campeão da Fórmula 3 Britânica em 1992 e terceiro colocado na Fórmula 3000 Internacional em 1994, sempre competindo pela equipe de Paul Stewart, filho do tricampeão mundial de Fórmula 1 Jackie Stewart — e que se tornaria a equipe Stewart, na própria F1, por onde correu Rubens Barrichello. Na época, De Ferran chegou a fazer testes pela poderosa Williams com suspensão ativa, no final de 92. Também testou por outra escuderia mais modesta, a Footwork, em setembro de 93.
Contudo, sem patrocínio suficiente para bancar uma vaga de titular na categoria mais badalada do automobilismo mundial, Gil virou suas atenções para os Estados Unidos, onde teve uma carreira as muito sucesso na CART (categoria que ficou conhecida no Brasil como Fórmula Indy).
Estreou na Indy em 1995 pela mediana equipe Hall e ganhou sua primeira corrida logo no ano de estreia, em Monterey. Em 97, foi vice-campeão de Alessandro Zanardi por outra equipe de meio de pelotão, a Walker. Os resultados consistentes chamaram a atenção e De Ferran conseguiu para 2000 um contrato com a Penske, principal escuderia do campeonato.
Lá, viveu sua fase de maior sucesso, tornando-se bicampeão da Fórmula Indy em 2000 e 2001, com direito a quatro vitórias no período. Gil completou o ciclo com uma lendária vitória nas 500 Milhas de Indianápolis de 2003, uma das das prestigiadas corridas automobilísticas no planeta.
Aposentado das pistas logo depois, Gil de Ferran se tornou diretor esportivo da equipe BAR na F1 em 2005. Depois, foi promovido a chefe quando a mesma esquadra se tornou Honda, em 2006. Permaneceu lá até 2007. Desde 2017, era consultor da McLaren e chegou a ser coach de Fernando Alonso em sua participação nas 500 Milhas de Indianápolis daquele ano.
Por todas essas conquistas, Gil de Ferran era considerado por muitos o melhor piloto brasileiro a nunca ter chegado à Fórmula 1.
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Fonte: direitonews