“Não por questões somente geopolíticas relacionadas a conflito, como tradicionalmente é repassado, mas também por outras questões. Por exemplo, o futebol agora está começando a migrar em massa para o Oriente Médio, você tem a economia também fazendo valer o BRICS agora, com a introdução de diversos países médio-orientais.”
💬 Hoje, 18 de dezembro, é celebrado o Dia Mundial da Língua Árabe. Em entrevista à Sputnik Brasil, o criador do projeto História Islâmica conversou sobre a relação do Brasil com a comunidade árabe e o interesse dos brasileiros em aprender mais sobre esta cultura. pic.twitter.com/zuaHfRuqRS
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) December 18, 2023
Qual a influência árabe na língua portuguesa?
“O português é uma língua fortemente carregada pelo árabe na sua formação. Um dos grandes lexicógrafos da história do Brasil, que foi Antonio Houaiss, que era ele mesmo também um brasileiro de origem árabe, de origem sírio-libanesa, faz ali um texto muito interessante, um artigo que tem publicado na página de História Islâmica, em que ele coloca como a língua árabe começou, como a língua árabe fez parte da construção do idioma português”, explica Peixoto.
Quais palavras da língua portuguesa têm origem árabe?
“Isso geralmente acompanha o surgimento de conflitos. Quando o conflito começa, o conflito explode, digamos assim, você entra nas maiores livrarias do país e você já encontra lá, logo na bancada de frente, livros falando sobre aquela situação no Oriente Médio. […] Porém o que eu tenho notado nos últimos anos é que a quantidade de livros que vêm sendo publicados tem sido cada vez maior, de pessoas que buscam, digamos assim, fazer esse intercâmbio do que é produzido, tanto academicamente como para a divulgação acadêmica fora do Brasil, e trazendo aqui para a gente no idioma português, o que tem facilitado a pesquisa e o estudo de muita gente.”
Desafios para a inserção da língua árabe na sociedade brasileira
“Mas as [pessoas] que se dedicam mesmo ao aprendizado são aquelas que se identificam com a cultura e têm interesse pela literatura árabe”, explica Jemima.
“As pessoas ainda são movidas a aprender uma segunda língua pela necessidade do mercado, e essa necessidade geralmente não passa pelos idiomas do Sul Global. O oferecimento da língua árabe também é algo ainda muito limitado no país, e, por incrível que pareça, a maior parte da população, por desconhecimento, não consegue ainda encontrar pontes de identificação com as culturas dos povos árabes”, explica Jemima.
“Quando se aprende a língua árabe, você compreende, ao contrário do doutrinamento de uma história eurocentrista e uma mídia sensacionalista que temos, quão rica é a cultura dos povos árabes e quão diversos eles podem ser entre si. Esse intercâmbio entre quaisquer culturas é imprescindível para a desconstrução dos estereótipos que nos foram ensinados, e acho que é o mesmo com a islamofobia.”
“No momento, não podemos deixar escapar o que acontece na Palestina, e por isso Mahmoud Darwish, o poeta palestino, tem sido uma das vozes literárias que mais ecoam nesse cenário de desespero. Com muita beleza e lirismo, ele canta os horrores da guerra na Palestina e do exílio, como um esforço hercúleo de tentar nos humanizar novamente. Traduzido e conhecido no mundo todo, Mahmoud Darwish chega ao Brasil por meio de várias obras traduzidas para o português e publicadas pela Editora Tabla. Se couber uma indicação, eu apontaria ‘Memória para o Esquecimento’, traduzido pela Safa Jubran.”
Fonte: sputniknewsbrasil