‘Pode ser que, no futuro, em semanas ou meses, ele [Charles III] abdique do trono’, diz analista


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Com a morte de sua mãe, a rainha Elizabeth II, Charles, aos 73 anos, agora chamado de Charles III, se torna o novo monarca do Reino Unido e dos 14 reinos da comunidade. Em seu primeiro comunicado como rei, ele lamentou a morte da monarca, e enalteceu “o respeito e o carinho tão profundamente cultivados pela rainha”.
Elizabeth II, afinal, ficou 70 anos à frente da coroa inglesa, e como relembrou Christopher Mendonça, ela passou por momentos importantes da história, sendo muito atuante, por exemplo, durante a Guerra Fria, “com capacidade de pacificação e diálogo com as potências da época”.
Para o professor, outro episódio importante durante o reinado de Elizabeth II ocorreu na Argentina, durante a Guerra das Malvinas, iniciada por Margaret Thatcher, então primeira-ministra, para reduzir, como apontou o professor, as “tensões políticas” no Reino Unido, que enfrentava uma grave crise econômica.
Rainha Elizabeth II participa da abertura oficial de exposição no Zoológico de Londres, Reino Unido (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 08.09.2022

“Ela teve um papel muito importante, porque havia uma queda de popularidade da Thatcher, que fez essa guerra para melhorar sua imagem. A rainha teve um papel de importância, porque demonstrou sua liderança, tentando buscar um equilibro entre os países. Ela exerceu um papel de chefe diplomática, como se espera de uma monarca”, disse ele.

Conforme relembrou Christopher Mendonça, Elizabeth II “foi fundamental nesse conflito em território latino porque ela acalmou os ânimos entre os países”, buscando solucionar a contenda. Esse papel, explica o professor do Ibmec, também foi visto durante a pandemia de COVID-19, quando a monarca promoveu declarações em contraste com as do então primeiro-ministro, Boris Johnson.
Questionado sobre quais mudanças podem acontecer com a chegada do rei Charles III, o especialista defendeu a experiência do monarca, adquirida durante anos de atuação diplomática como príncipe. “Ele teve uma escola muito importante, e aprendeu muitas coisas com a rainha”, comentou.
Charles “recebeu, nos últimos anos, uma série de compromissos reais, nos quais ele precisou manter esse equilibro de Elizabeth II, e conseguiu fazer isso de forma primorosa”.
Para o especialista, certamente, a atual crise, ligada ao conflito na Ucrânia e às sanções contra a Rússia, será o maior desafio do novo rei, dados os fortes impactos inflacionários sobre a população britânica.

“Isso impacta a vida dos ingleses, com preços em alta, principalmente de eletricidade. Ele precisa conduzir de forma equilibrada essa questão social. Mas é preciso lembrar que ele não é um chefe de governo, e, portanto, dividirá com a Liz Truss essa questão de crise inflacionária e energética”, analisou Christopher Mendonça.

Questionado sobre um possível reinado longevo no Reino Unido, o analista é reticente. Ele destaca que a escolha de Charles III, em um primeiro momento, faz parte de uma característica histórica do trono inglês, “que nunca está vazio”. Só por isso que, assim que o Palácio de Buckingham declarou a morte da Elizabeth II, o príncipe Charles foi apontado como rei, pois essa é a tradição.
A rainha Elizabeth II com o então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, chegando no Palácio de Buckingham, em Londres, em 7 de março de 2006 - Sputnik Brasil, 1920, 08.09.2022

Entretanto, para o especialista, ainda é difícil determinar se Charles III terá um reino longevo. Em 2010, uma pesquisa nacional no Reino Unido mostrou que 49% dos ingleses desejavam ver William e Kate no trono, contra apenas 16% favoráveis a Charles e sua esposa, Camila.
“Pode ser que, no futuro, em semanas ou meses, ele [Charles III] abdique do trono”, comentou.
“Isso aconteceu com o tio dele, que passou o trono para seu irmão, o pai da rainha Elizabeth II. A última passagem de coroa foi há 70 anos, e o que esperamos é que esse protocolo seja bastante longo. O corpo da rainha será levado para Londres, onde ela será velada com o público”, comentou.
Além disso, segundo ele, o novo rei do Reino Unido, como foi apontado por alguns setores da imprensa internacional, não é popular como a antiga rainha.
“Ele não tem o mesmo tipo da rainha, que frequentava eventos públicos, e mesmo eventos no cenário externo, se interessando por contendas diplomáticas históricas. Me parece que ele não tem o mesmo vigor que a sua mãe”, concluiu.
Príncipe da Grã-Bretanha, Charles - Sputnik Brasil, 1920, 08.09.2022

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