ARTIGO: “Onde nós colocamos a cara, muitos não têm coragem de colocar o pé”


Por Mauricio Sirotsky Neto

A imagem de Mark Zuckerberg com hematomas no rosto chamou a atenção do mundo nos últimos dias. Há alguns anos, o fundador e CEO da empresa de tecnologia Meta (Facebook, Instagram e WhatsaApp) é adepto do jiu-jitsu, esporte conhecido por valorizar atributos como coragem, resiliência e estratégia, fundamentais para todo empreendedor.

O jiu-jitsu entrou na minha vida no final da década de 90, quando eu tinha 12 anos. Adolescente muito tranquilo e contido, fazia de tudo para passar longe de qualquer confusão, mas o esporte me mostrou que ser bom de briga pode ser uma grande virtude.

No tatame, aprendi que, para nos mantermos vivos, precisamos lutar, que o espírito competitivo nos impulsiona a alcançar objetivos e que a técnica pode superar a força, embora sem força não seja possível vencer as batalhas. Encontrei equilíbrio, segurança, espaço para extravasar o estresse e muitas lições.

Arte marcial com elementos do judô e foco especial na luta de solo, o jiu-jitsu cria condições para que atletas menores e mais leves possam superar mesmo os adversários mais fortes. No chão, o porte físico dos lutadores é de menor importância e leva vantagem aquele que tiver melhor técnica.

Só que, para alcançar a técnica, é necessário ter muita disciplina, treinamento e conhecer potenciais e limites próprios.

Tem uma frase muito comum entre os lutadores que diz: “onde nós colocamos a cara, muitos não têm coragem de colocar o pé”. Significa que, para encarar outras pessoas, muitas vezes bem maiores do que nós, com cara de “mau” e querendo nos atacar, além de todo o preparo, precisamos enfrentar o medo e ter coragem.

Assim acontece, também, na vida empresarial. O jiu-jitsu ensina disciplina, respeito ao próximo, autoconfiança controle e equilíbrio emocional, entre outras tantas características que têm guiado minha vida pessoal e profissional.

Em setembro, participei pela quarta vez do Campeonato Mundial de Master de Jiu-Jitsu em Las Vegas, nos Estados Unidos, que reúne mais de 10.000 atletas acima 30 anos. Desta vez, fui parado na segunda luta, mas competir com os melhores do mundo é uma experiência única que traz muitas lições aprendizados, alguns dos quais compartilho abaixo.

1. Preparação é fundamental

Treinar, simular situações de luta, contar com ajuda de treinadores experientes e avaliar adversários nos ajuda a chegar mais confiantes. Da mesma forma, enquanto empreendedores, precisamos estar sempre estudando, antecipando diferentes tipos de situação, escutando os mais experientes e seguindo vencedores da nossa área de atuação.

2. Sem time não há campeão

Mesmo se tratando de um esporte individual, os companheiros de treino, com sua diversidade, são fundamentais para a evolução da técnica de cada lutador, ajudam a moldar nosso estilo de luta e nos torna mais completos. Assim é nas empresas, onde o trabalho em uma equipe diversificada, e os diferentes papéis de cada um dos integrantes impulsionam os resultados do negócio.

3. Embaixo de um quimono ninguém se esconde

Ao vestirmos um kimono, afloramos o nosso lado mais primitivo, e as nossas características individuais ficam mais latentes. É possível reconhecer, durante a luta, aspectos de personalidade do adversário (se a pessoa é respeitosa, trapaceira, competitiva etc.). No mundo corporativo, é fundamental exercitar a capacidade de leitura desses traços. A gestão de pessoas bem-sucedida passa por escolher as pessoas certas para as posições certas.

4. A maior batalha é contra a gente mesmo

Na hora da verdade, somos nós por nós mesmos. Somos tomados por muitas emoções, taquicardia, medo de apanhar, de desapontar nossos companheiros de treino. Só que, quando pisamos no tatame, precisamos controlar todos esses sentimentos para focar nos movimentos do adversário, na hora exata de atacar. E o medo é substituído pela vontade de vencer.

Antes de empreender, também temos que avaliar muitos riscos (financeiros, trabalhistas, aceitação do produto). Porém, quando nos preparamos de fato para fazer um negócio, com estratégia e ajuda da equipe adequada, o medo dá lugar à motivação para fazer acontecer.

5. No tatame, todo mundo é igual

Não importa a origem do atleta ou o que ele enfrentou para chegar até ali, quando entram para lutar, todos têm as mesmas condições e oportunidades de vencer. No jiu-jitsu, a técnica se sobressai à força e, a qualquer momento, é possível perder para uma pessoa fisicamente menor ou menos graduada (faixa abaixo).

Cair faz parte do processo de evolução. É o que acontece quando lançamos algum produto ou serviço e não dá certo, quando recebemos um feedback negativo ou alguma coisa sai fora do previsto. Precisamos reconhecer o que aconteceu, deixar o ego de lado e tentar fazer melhor.

6. Sempre há uma saída

Durante a luta, vivemos situações de extrema pressão e desconforto. Nessa hora, o foco e a calma são os melhores aliados para encontrarmos a saída. Como diz o mestre Fabio Gurgel, quatro vezes campeão mundial do esporte, uma das grandes lições do jiu-jitsu é “encontrar o conforto no desconforto”.

O que vale também para a vida empresarial, já que, diariamente, precisamos lidar com pressões e correr riscos. Não é à toa que muitos empreendedores têm buscado o jiu-jitsu. Mark Zuckerberg é um exemplo.

Volto deste mundial feliz por ter enfrentado meus medos, compartilhado tempo com meus companheiros de treino, que são amigos de uma vida, e acumulado muitos aprendizados. Mais importante do que resultado é o que aprendemos na jornada. De volta ao Brasil e às atividades corporativas, retomo os passos para estar ainda melhor nas próximas batalhas da vida.

Fonte: exame

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