Para o Copom (Comitê de Política Monetária), a taxa básica de juros (Selic) deve permanecer em patamar restritivo (sine die ou elevado por tempo indeterminado) para alcançar ‘objetivos inflacionários (converter a inflação à meta).
A avaliação foi feita pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ao argumentar que “mesmo com o ajuste, o que estamos fazendo é restritivo suficiente para atingir a meta”, em coletiva de imprensa, nesta quinta-feira (28), que marcou a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
Ao comentar a projeção do boletim Focus – de que o IPCA deve chegar a 3,5% em 2024, e a 3,5%, no ano seguinte (ambos acima do centro da meta de inflação, de 3%, fixada pelo Conselho Monetário Nacional, CMN), para uma Selic estimada em 11,75% ao ano e em 9% ao ano, no final de 2024 – o dirigente monetário salientou que “em nenhum momento, o BC quis indicar que está ‘confortável’ com as expectativas de inflação acima da meta.
Sobre o empenho da autoridade monetária em ‘perseguir’ a meta de inflação de 3% para este ano, Campos Neto reiterou que “em relação às expectativas, é bem importante frisar que o BC persegue a meta. Em todas as decisões, a gente leva em consideração o que precisa ser feito para cumprir a meta. Quando muda o horizonte relevante, muda um pouco. Mas, em nenhum momento, quisemos dizer que está confortável com expectativas acima de meta”.
Recorrendo à terminologia própria do mercado financeiro, o ‘xerife do real’ considera que “a barra para acelerar o ritmo de cortes da Selic [hoje estabelecido em meio ponto percentual (0,5 p.p.), a cada nova reunião do Copom] está hoje ligeiramente alta”. Para ele, desde o mês passado, o colegiado vem classificando como ‘adequado’ o ritmo de corte da taxa básica, acrescentando ser ‘pouco provável’ que este seja intensificado.
Como fatores que justificariam a visão de que a barra de aceleração dos cortes estaria ligeiramente alta, Campos Neto apontou os recentes acontecimentos no cenário externo, vide inflação descontrolada, alta de juros e avanço do preço do petróleo.
Sobre o estudo desenvolvido pelo comitê, com relação à desancoragem de expectativas para a inflação de 2025, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, também presente à coletiva, acentuou que o “maior impacto inflacionário sobre aquele ano teria origem na inércia da inflação de 2024, embora haja indicação de efeitos da persistência global da inflação e da perspectiva de déficits primários ou gastos públicos mais elevados no país”.
Mais adiante em sua preleção, Guillen explicou que “a inflação de 2024 tem maior impacto, mas não dá para extrair desse estudo a explicação de todos os motivos da desancoragem. Ajuda a compor discussão, é mais uma peça do quebra-cabeça”, ao acrescentar que “o BC tem trazido a hipótese de incertezas fiscais e que olha outras variáveis, como a inflação implícita, para entender o movimento”.
Fonte: capitalist