Carros elétricos e híbridos devem ficar mais caros no Brasil nos próximos anos. A decisão de retomar a cobrança de impostos de importação de forma gradual no Brasil foi confirmada pelo secretário Uallace Moreira, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), em entrevista à Reuters.
O governo ainda discute cronogramas e prazos, mas Moreira antecipou que a retomada da cobrança acontecerá gradativamente pelos próximos três anos. A decisão não agradou setores na indústria, que consideram a medida protecionista e temem o atraso do segmento.
Autoesporte consultou órgãos envolvidos e especialistas para entender os impactos da retomada da cobrança do imposto de importação de carros elétricos nos próximos anos. Acompanhe:
Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), afirma não ser contra a reaplicação dos impostos de importação, mas alega que carros elétricos ainda correspondem a uma fatia pequena do mercado e que o setor precisa se desenvolver.
“As vendas de veículos eletrificados no Brasil hoje representam 2%. 2% não é invasão“, diz o presidente da ABVE. “A isenção do imposto está trazendo anúncios de investimentos. Retomar a tributação agora seria jogar fora todo o esforço que o Brasil tem feito”. completa.
Atualmente, não há qualquer taxação para carros elétricos – para híbridos a alíquota é de 4%. Com a reaplicação do imposto, todos os veículos terão os mesmos 35% de tarifa de importação dos modelos a combustão.
A retomada da cobrança é apoiada por todas as marcas atreladas à Associação das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A discussão voltou à tona após a chegada de marcas chinesas, como a GWM e a BYD, que lançaram no mercado diversos carros elétricos tecnológicos e com preço bastante competitivo, como o Dolphin, Seal e o Ora 03. Não é à toa que alguns deles já aparecem no ranking de carros elétricos/híbridos mais vendidos do Brasil em 2023.
A ABVE, por sua vez, defende a retomada da tributação a partir de 2025, quando a fatia de veículos eletrificados deverá corresponder a 6% de todos os emplacamentos no Brasil.
Para Milad Kalume, consultor automotivo da Jato do Brasil, a retomada do imposto é uma medida protecionista que pode ser maléfica no curto prazo. O segmento perderá competitividade com o encarecimento, pois carros pequenos custarão o mesmo que modelos médios e grandes.
“O Brasil está entre os maiores exportadores de lítio do mundo. Nossa engenharia é capaz de desenvolver baterias e sistemas necessários na indústria”, afirma Kalume. “Porém, não existem recursos disponíveis para investimentos governamentais, e a iniciativa privada leva os profissionais para o exterior”.
O consultor afirma ainda que a indústria nacional tem sido passiva no desenvolvimento da eletrificação. “Apesar da citada qualificação, somos majoritariamente seguidores de tecnologia. Pouco ou quase nada é desenvolvido aqui, o que é uma pena”, lamenta.
Atualmente, os únicos carros eletrificados produzidos no Brasil são Corolla e Corolla Cross, em Sorocaba (SP). Os componentes dos motores híbridos são importados do Japão, mas a fabricante já antecipou que pretende produzi-los localmente no futuro.
O governo ainda discute prazos para a retomada dos impostos, mas segundo Bastos, o impacto no preço deve refletir o percentual da tarifa. “Cada ponto percentual de imposto a mais vai aumentar o preço final no mesmo percentual”, diz o presidente da ABVE.
O executivo afirma também que a decisão de repasse integral depende das empresas. Portanto, é possível que os preços de alguns veículos subam menos do que a proporção do imposto.
Além da dupla Corolla e Corolla Cross, outros carros híbridos serão produzidos no Brasil nos próximos anos. As novatas BYD e GWM adquiriram fábricas no Brasil, em Camaçari (BA) e Iracemápolis (SP), respectivamente, com essa intenção. Antes, os complexos pertenciam à Ford e à Mercedes-Benz.
Marcas como Caoa Chery, Volkswagen e Chevrolet também revelaram a intenção de produzir carros híbridos ou elétricos no Brasil até o fim da década. Carros com motores híbridos flex devem ser a prioridade.
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Fonte: direitonews