Setembro Verde busca incentivar a doação de órgãos e tecidos


ANDREA GODOY
DA REDAÇÃO

No esforço de conscientizar a população sobre a necessidade de doar é que setembro foi estabelecido como o mês de incentivo à doação de órgãos com datas alusivas, como o Dia Nacional da Doação de Órgãos em 27 de setembro. Em São Paulo, há duas leis estaduais sobre o tema, sendo que a Lei nº 15.463/2014 implantou a Campanha Setembro Verde e a Lei nº 13.034/2008 criou a Semana de Incentivo à Doação de Órgãos para Transplantes na semana do dia 27.

Estatísticas sobre transplante de órgãos

O transplante de órgãos no Brasil sofreu queda acentuada nos três anos de pandemia de Covid-19, entre março de 2020 e maio de 2023, e ainda não voltou ao patamar anterior conforme a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos). Atualmente, mais de 50 mil pessoas no país estão na Lista Única Nacional aguardando por um transplante para sobreviver e ter mais qualidade de vida. O Estado de São Paulo é o líder da fila de espera, tendo entre 25 a 30 mil pacientes.

No primeiro trimestre de 2023, o RBT (Registro Brasileiro de Transplantes) notificou um aumento de 6% na taxa de doadores efetivos, com 17,5 pmp (por milhão de população). A meta para o ano é de aumento de 10%. Entre janeiro e março de 2023, a doação de órgãos totalizou 2.023, entre coração, fígado, intestino, multivisceral, pâncreas, pulmão e rim. No mesmo período houve 3.673 doações de tecidos e 1.026 de medula óssea.

Como doar e quais os critérios

A doação pode acontecer em vida ou em caso de morte encefálica, com autorização da família. Por isso, é importante declarar a intenção de ser um doador. A coordenadora da unidade de Transplante do Hospital das Clínicas da Unicamp e membro da diretoria da ABTO, dra. Ilka Boin explica que é possível doar metade do fígado em vida para outra pessoa com doença hepática ou terminal.

“Já a doação com falecido, essa pessoa é um doador que evoluiu para uma morte encefálica devido a uma doença neurológica aguda ou crônica. No Brasil, essa doação é consentida e autorizada pela família, por isso é preciso avisar os familiares anteriormente sobre o desejo de doar”, afirma a médica.

Desmistificando a morte encefálica

Um dos empecilhos à autorização da família é o desconhecimento sobre a morte encefálica, que constantemente é confundida com o estado de coma avançado, onde diferente da morte cerebral há casos de recuperação.

“O quadro de morte encefálica é a falta de oxigenação no cérebro, é o quadro 4B da escala de coma, portanto irreversível onde o cérebro não aguenta muito tempo e temos um intervalo curto para trabalhar com a doação. Diferente do estado de coma 4A, onde a pessoa não se move, ela apenas respira, normalmente com o auxílio de aparelhos e de uma hora para outra começa a acordar. Isso não era um estado de morte encefálica e sim de coma avançado”, esclarece.

Outro aspecto importante destacado pela dra. Ilka Boin é que o doador com morte encefálica não fica com deformações no corpo. “Há um trabalho de recomposição corporal adequada para oferecer à família uma despedida digna, portanto isso não deve ser uma preocupação para ninguém. O importante é saber que é uma despedida a um ente querido que deixou uma dádiva para alguém que vai poder ver ou ir ao banheiro normalmente, ou urinar normalmente, no caso do fígado acompanhar seus filhos, ver o neto nascer, então você estará oferecendo vida”, declara.

Sistema de doações

Quando uma pessoa precisa de transplante os Sistemas Estaduais de Transplantes são responsáveis por alimentar a Lista Única Nacional. Em função da logística, normalmente a doação é realizada dentro de cada Estado, a não ser que um receptor esteja em uma situação muito crítica, ocasião em que o órgão pode viajar para outro Estado.

“No caso do fígado e do coração, há doentes terminais com uma expectativa limitada de vida. Com o transplante você oferece de 70 a 80% de chance de estar vivo ao final de um ano, de 60 a 65% de estar vivo em 5 anos e mais de 50% de estar vivo em dez anos”, analisa a dra. Ilka.

Para destinar o órgão também há o critério de compatibilidade. “Para o rim, coração e pâncreas usamos a compatibilidade HLA, onde anticorpos e antígenos têm que se ‘conversar’ devidamente. No caso do fígado, a compatibilidade é por tipo sanguíneo, igual na transfusão de sangue”, pontua.

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