O convite estava na gaveta de spam do meu e-mail: um meeting com o chief executive officer, CEO, de uma corporação multinacional. Coffee break no lounge e, no fim da tarde, happy hour com o diretor de marketing para um oportuno networking. Open bar. Inbox, chega o press release de um fabricante informando que certo sport utility vehicle, o SUV, chega para se tornar flagship com seu eficiente adaptive cruise control, seu infalível blind spot monitor, seu preciso lane trace assist e sua magnífica performance. No site de um jornal na internet, leio que o Museu da Língua Portuguesa inaugurou um café em seu rooftop.
Das 105 palavras acima, 35 não pertencem à nossa língua — foram integradas a ela. São termos e expressões em inglês largamente usados em empresas e, sem que você se dê conta, no seu cotidiano. Você diz que seu Up tem duas bolsas infláveis ou dois airbags? Pois então.
Desde o século 19, com a expansão das colônias britânicas, o inglês tornou-se universal: com estimados 1,45 bilhão de falantes, ainda é a língua mais difundida do mundo, apesar do avanço do mandarim, falado por 1,2 bilhão de pessoas. O espanhol (512 milhões) foi superado pelo hindi (698 milhões).
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Compreensível, portanto, que no mundo globalizado as tecnologias e os nomes de carros sejam em inglês. Defender, Weekend, Aircross, Kicks ou Ranger: nomes tão incorporados ao cotidiano que você nem percebe que são estrangeiros. Do mesmo modo, você chama de cruise control o controle de velocidade de cruzeiro e trata o assistente de estacionamento pelo original, park assist.
O problema é o uso indiscriminado do estrangeirismo — inclusão de língua estrangeira no idioma. Por exemplo: o que leva o cidadão da loja de carros a pintar no para-brisa do SUV a palavra “sale”, e não liquidação ou pechincha? Talvez ele ache mais chique, já que boa parte das vitrines das lojas, dentro e fora dos shopping centers, traz a expressão inglesa para se referir à queima de estoque.
Não, não é chique. E, como concluiu pesquisa divulgada em junho, o estrangeirismo pode confundir e não esclarecer. A conclusão é do Duolingo, principal aplicativo educacional do mundo. Em parceria com o LinkedIn, a mais conhecida rede social profissional, a instituição entrevistou 8 mil funcionários de diferentes ramos em oito países e demonstrou que 58% dos participantes acham exagerado o uso de jargões no ambiente de trabalho e 57% afirmaram que a não compreensão dos termos prejudica a produtividade.
No Brasil, 36% disseram se sentir subestimados quando trocam as expressões em inglês pelo similar em português. Depois de Índia, Vietnã e Colômbia, o Brasil é o país onde mais se fala inglês no trabalho (66%, acima da média mundial, 58%).
Feedback, networking, briefing e brainstorm são, diz a pesquisa, os jargões mais utilizados no país. Asap (acrônimo de as soon as possible) é outra expressão muito usada, que poderia ser substituída pelo popular “é pra já!”. Sem tanta pompa, é verdade. Mas, do contínuo ao diretor, todos entenderiam.
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Fonte: direitonews