Com a tese “O corpo define ela como mulher”! uma análise discursiva de entrevistas com homens cis heterossexuais e travestis e transexuais”, do Pós-graduação em Estudos de Linguagem (PPGEL) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Câmpus de Cuiabá, Jaqueline Denardim será a primeira mulher trans a receber o título de doutora na Instituição. Sob orientação do professor Danie Marcelo, a defesa acontece na próxima sexta-feira (1), às 14h, horário de Cuiabá, no auditório do Instituto de Linguagens (IL).
A doutoranda conta que o trabalho não exclui nenhum tipo de manifestação das sexualidades e dos gêneros. “Nosso recorte analítico se prestou a interpretar somente sequências discursivas de homens cisgêneros heterossexuais e de travestis e mulheres transexuais que são os participantes desta pesquisa. Tem caráter qualitativo, e a metodologia usada para coletar os dados e formar o corpus analisado foi produzida por meio de entrevista realizada com dezessete participantes, sendo entrevistado um por vez”, disse a licenciada em Ciências Sociais, Pedagogia, Letras-Português e Letras-Libras.
Na banca de defesa estarão presentes os pesquisadores da UFMT, Márcio Evaristo Beltrão e Divanize Carbonieri; e Adriana Barboza Sales, ativista social do movimento trans brasileiro e atuante junto a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). O docente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Fábio Alexandre Silva Bezerra, e a membro do Exército Brasileiro – Colégio Militar de Brasília, Flávia Lima Huber Costa, integram o grupo avaliativo.
O orientador da tese ressalta que a pesquisa aborda como tema as discussões relacionadas aos discursos sobre e para o corpo das sujeitas travestis e mulheres transexuais, e o desejo de homens cisgêneros heterossexuais por essas mulheres e/ou seus corpos. “Nosso objetivo foi problematizar como o corpo define uma sujeita como mulher, também como e por que o corpo dessas travestis e mulheres transexuais são o objeto de desejo de homens cisgêneros heterossexuais”, destacou.
Sociedade e Identidades
Jaqueline Denardim ressalta, ainda dentre os resultados, que o desejo de homens cisgêneros heterossexuais não está relacionado com o corpo como um todo, mas com a possibilidade de exercer a sua heterossexualidade compulsória, relacionando-se com uma travesti ou mulher transexual.
O orientador da pesquisa situa o marco histórico para a UFMT, e que o tema é construído em cima das experiências da doutoranda. “Dentre os resultados obtidos temos que os discursos (re)produzidos tanto por travestis quanto por mulheres transexuais, assim como por homens cisgêneros heterossexuais, indicam que o corpo por si só não define uma sujeita como mulher, mas as práticas sociais e discursivas dela e sobre ela”, destacou.
Para Danie Marcelo o momento, simbolicamente, é a concretização de uma educação pública mais igualitária. “Como orientador percebemos o que a(o) acadêmica (o) deseja investigar e documentar, e o corpo é um tema que está muito interligada a vida da Jaqueline, e da comunidade trans”, ressaltou, destacando ainda que a doutoranda é professora desde os 18 anos, quando começou na rede estadual de ensino do Paraná, na cidade de Cascavel, onde reside até o momento.
Como uma jornada de doutorado bastante exigente, Jaqueline Denardim revelou que a esses quatro anos de estudos foram marcados por percalços e superações. “Houve vários momentos que eu pensei que não fosse conseguir finalizar o doutorado. Espero que muitas como eu vejam nesta minha conquista uma possibilidade de sonhar e de estar em lugar de prestígio social”, disse destacando que é preciso cada vez mais respeito na sociedade.
Universidade plural
Ainda dentro das atividades que objetivam contribuir para o diálogo, debate e inclusão de pessoas transexuais, trangêneros e travestis na Universidade, o docente convida para o evento a mesa “Paremos a Transfobia”.
“Pela manhã, às 08h, também no IL, iniciamos a palestra com este tema, que será conduzida por Adriana Barboza Sales, e em seguida a palestra A importância do judiciário na evolução dos direitos das pessoas LGBT’s, com a vice-presidenta da Comissão de Diversidade Sexual da OAB/MT, Daniella Veyga”, finalizou.
Fonte: ufmt