Em linha com a expectativa do mercado financeiro e do governo federal, o Comitê de Política Monetária (Copom), em decisão dividida, anunciou, no final da tarde desta quarta-feira (2), o corte, em meio ponto percentual (0,5 p.p.), da taxa básica de juros (Selic) que passou a ser de 13,25% ao ano.
Longe de ser unânime, dos nove votos do Copom, cinco foram a favor da redução de 0,5 p.p., enquanto os quatro restantes optaram por um corte de 0,25 p.p.. “O Comitê avalia que a melhora do quadro inflacionário, refletindo em parte os impactos defasados da política monetária, aliada à queda das expectativas de inflação para prazos mais longos, após decisão recente do Conselho Monetário Nacional [CMN] sobre a meta para a inflação, permitiram acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária”, justificou o colegiado.
A única unanimidade dos membros do comitê foi no sentido de que novos cortes de meio ponto percentual serão adotados, caso o cenário ‘positivo’ atual se mantenha. Tal perspectiva reducionista da Selic foi reforçada pela deflação do IPCA-15 (prévia da inflação oficial) em julho, assim como pela queda das expectativas de inflação para o 2024, o ‘horizonte relevante’ no jargão recorrente do BC, cuja projeção caiu, nos últimos dois meses, caiu de 4,13% para 3,89%. No entanto, esse nível inflacionário continua mais próximo do teto da meta de inflação, fixada pelo CMN, de 4,5%, do que do centro, de 3%.
Ao avaliar a decisão da autoridade monetária, o economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), André Roncaglia, entende que, “no balanço geral, a Selic elevada foi mais importante para desacelerar a economia via restrição de crédito do que para atacar as causas da inflação”.
Mais crítico da atuação do BC, o economista e professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marco Rocha, observa que a política monetária foi bastante errática até então. “Passamos por um afrouxamento demasiado da política monetária em 2020, que teve efeito sob a volatilidade da taxa de câmbio, e isso foi seguido de um dos maiores apertos monetários na história econômica do Brasil, o que gerou uma taxa de juros para conter essa volatilidade cambial extremamente elevada, e que se prolongou por muito tempo numa espécie de cabo de guerra para provar sua independência em relação ao governo”, comenta Rocha.
Na perspectiva, o economista da Unicamp afirma que “o que a gente vai ter até o final do ano é uma redução moderada, que ainda deve manter a taxa de juros brasileira como uma das mais altas do mundo. O efeito disso vai ser muito pequeno na economia: vai facilitar para o consumidor em geral, vai facilitar a reciclagem das dívidas, para as empresas também, e isso é bem salutar, dado que tivemos aumento de endividamento com uma taxa de juros elevada, então poder reciclar essas dívidas, rolar essas dívidas a um custo menor vai ser importante tanto para as famílias quanto para as empresas”.
Fonte: capitalist