Fluido de freio: o que é, para que serve e quando devo trocar?


O período de manutenção dos freios varia de acordo com o uso do automóvel. Se você circula com seu veículo na maior parte do tempo em trecho urbano, os freios são mais acionados, e as pastilhas e discos (ou lonas e tambores) vão gastar mais rapidamente que em carros que circulam mais em rodovias.

Mas existe um elemento desse sistema cuja degradação é menos visível: o fluido de freio. Seja em automóveis que rodam dezenas de milhares de quilômetros por ano ou aqueles que ficam na garagem, o fluido deve ser examinado todo ano por um profissional especializado.

O fluido de freio é o líquido que tem a função de transmitir a força aplicada pelo pedal de freio às rodas, fazendo com que a pinça pressione as pastilhas contra o disco — ou, no caso dos freios a tambor, o cilindro auxiliar pressione as lonas contra o tambor.

A recomendação de quase todas as fabricantes de automóveis é inspecionar todo o sistema de freios a cada 10 mil km ou 12 meses ou se houver qualquer sinal de desconforto com a frenagem. Já a orientação para a substituição completa do fluido costuma variar entre 12 meses e 36 meses.

“Para carros muito antigos e parados por muito tempo, vale uma análise mais técnica para a troca. O recomendado para estes casos é uma troca anual ou a cada 10 mil km”, orienta o consultor de Marketing de Produto da Controil, Vagner Marchiniaki.

O gerente sênior de Desenvolvimento de Produtos da ZF Aftermarket, Tales Miranda, também recomenda a substituição a cada ano por questões de segurança. “Trocar a cada 12 meses evita a contaminação do fluido com a água e resíduos que reduzem a vida útil de todo o sistema de freio, ou então conforme a orientação do manual do fabricante”, afirma.

Outro ponto importante para levar em conta é que os fluidos de freio têm prazo de validade. “Assim, é sempre necessário verificar a data de validade que vai impressa no frasco antes de utilizá-lo. Após aplicado ao veículo suas propriedades vão se degradando, conforme o previsto, e pode ter variações diferentes de um tipo para outro e de acordo com o uso”, explica Miranda.

Quando os freios são acionados, o fluido consegue transmitir a força para as rodas porque, como se trata de um líquido, ele não é compressível, ou seja, seu volume não diminui. O alto calor gerado pela fricção dos elementos de atrito é transmitido para o fluido, e ele não pode ferver sob essa condição. Porém, o fluido é higroscópico, o que significa que ele absorve a umidade do ar por meio do reservatório, que não pode ser totalmente vedado. Isso diminui seu ponto de ebulição.

Em situações de maior exigência dos freios, como uma descida de serra, essa água no fluido acaba fervendo. Isso cria bolhas de vapor no sistema, que são compressíveis — ao contrário do líquido. Assim, as bolhas vão absorver a pressão de acionamento do pedal, o que causa a perda da força dos freios.

“Ao longo do tempo, o sistema de freios tem contato com o ambiente e assim o fluido vai perdendo suas propriedades”, descreve Miranda. “Com o vencimento do prazo de validade do fluido, as chances de acumular água no reservatório e nas tubulações aumentam, podendo levar a mistura líquida a ferver e, assim, comprometer a frenagem.”

Existe ainda outro problema causado pela umidade. Se o fluido não for trocado, com o tempo, pode se tornar ácido pela presença da água e provocar a corrosão de partes metálicas internas do sistema. Se essa corrosão afetar o módulo do ABS, pode inutilizá-lo. Imagine o prejuízo na hora do conserto…

Os três tipos mais comuns de fluido de freio no mercado são os DOT 3, DOT 4 e DOT 5.1. Quanto maior o DOT, mais resistente é o fluido em relação à temperatura. “A diferença básica entre eles é a temperatura de ebulição. O DOT 3 atinge o seu ponto de ebulição acima dos 205°C, o DOT 4 tem o seu ponto de ebulição acima dos 230°C e o DOT 5.1, acima dos 260°C”, diz Marchiniaki.

Uma vez que o fluido exerce uma função tão fundamental para a segurança do veículo e não pode ferver, por que não usar logo o DOT 5.1 em todos os carros de uma vez? Bem, a coisa não é tão simples assim.

Miranda comenta que nem sempre os diferentes tipos de fluidos são intercambiáveis. Em alguns casos, características específicas impedem a troca de um tipo por outro, mesmo que em teoria um fluido seja mais eficiente que o outro.

“O tipo de fluido para freio do veículo sempre é definido por seu respectivo fabricante, que leva em conta suas características mecânicas e tipo de aplicação. Isso vai definir inclusive a temperatura máxima de trabalho, característica essa que está diretamente ligada ao tipo de DOT a ser utilizado.”

Portanto, nenhuma empresa recomenda misturar fluidos em um mesmo sistema de freio. O correto é sempre usar o recomendado pelo fabricante do automóvel, cujo DOT fica identificado na tampa do reservatório do fluido.

Existem outros dois DOT no mercado que não podem ser confundidos, trocados ou misturados com os demais. O primeiro é o DOT 5 ou 5.0. Pela nomenclatura, é fácil de se confundir com o DOT 5.1, mas eles não são nada parecidos: a composição de ambos é totalmente diferente.

“Enquanto líquidos da linha DOT 5.1 mantêm sua formulação com base em glicóis, portanto higroscópicos, fluidos da categoria DOT 5 apresentam composição a base de silicone. Isso garante a eles uma característica hidrofóbica, com maior resistência à umidade”, explica Marchiniaki, reforçando que “cada um tem aplicações distintas, e eles não podem ser misturados entre si”.

Miranda também reforça que os fluidos com silicone são usados geralmente em países de baixíssimas temperaturas. “Isso evita que o fluido congele. No Brasil, por conta das suas características climáticas, esse recurso não é necessário.”

A diferença de bases na composição entre o 5 e o 5.1 pode até causar uma reação química dentro das tubulações, que pode deixar o fluido mais “líquido”, interferindo em suas propriedades, ou formar uma espécie de gel que pode entupir a tubulação e causar a perda completa dos freios.

Uma classificação DOT que passou a estar mais evidente no mercado brasileiro nos últimos anos é o DOT 4 LV, no qual “LV” significa “low viscosity” ou “baixa viscosidade”. Esse fluido foi criado para garantir respostas mais rápidas às válvulas e sensores presentes em sistemas ABS e EBD de última geração.

“A performance do sistema hidráulico assistido pelo ABS requer fluidos de baixa viscosidade para operar em qualquer temperatura e garantir a pronta resposta no acionamento do pedal do freio. Com o fluido DOT 4 LV há um tempo de resposta mais rápido do sistema, garantindo uma menor distância de frenagem”, explica Miranda.

Por conta dessas características, o sistema de frenagem que requer o DOT 4 LV tende a perder eficiência se for abastecido com o DOT 4 comum. Por isso, assim como nos outros casos, evite trocar a especificação. O DOT 4 LV não pode ser nem substituído pelo DOT 5.1, uma vez que é o menos viscoso entre todos os DOT e deve ser utilizado em aplicações específicas.

Uma das marcas que há mais tempo recomenda o uso de DOT 4 LV é a Ford: atualmente, os cinco modelos leves de sua linha (Maverick, Ranger, F-150, Bronco Sport e Territory) têm essa indicação. A General Motors também determina o uso do mesmo fluido para quase toda a linha Chevrolet.

Para verificar se o fluido se encontra no nível correto, o reservatório traz marcações de nível máximo e mínimo em sua lateral. O reservatório do fluido de freio fica sob o capô do veículo e pode ser encontrado, na maioria das vezes, na direção do motorista, próximo à parede corta-fogo. Em alguns carros, pode estar do lado oposto, mas sempre próximo da cabine do veículo.

Esse reservatório pode ser identificado pela tampa, com as indicações sobre o DOT correto que deve ser utilizado naquele veículo. Mas atenção: não abra o reservatório de fluido de freio sem necessidade. Lembre-se que ele absorve a umidade do ar e deixá-lo exposto ao ambiente sem a tampa vai acelerar a sua degradação.

O fluido de freio não é consumido nem evaporado durante o uso. Se houver variação de nível em seu reservatório é porque as pastilhas se desgastaram e o fluido compensou essa perda de material aproximando mais a pastilha do disco (ou a lona do tambor).

Nessa condição, os freios podem estar muito próximos do momento da manutenção e o fluido, já desgastado pelo tempo de uso. Mas existe outra possibilidade bem pior para a alteração no nível do reservatório: vazamento no sistema. Portanto, nas duas hipóteses, a correção do nível de fluido é caso para oficinas especializadas.

Miranda orienta o motorista que se o nível de fluido no reservatório estiver abaixo do mínimo, mesmo que por pouco, é hora de trocá-lo. “Diferentemente de outros líquidos, como o de arrefecimento e o óleo do motor, o fluido de freio não deve ser simplesmente completado até o nível ideal. Uma vez aberto o sistema, é necessário que todo o material seja drenado e substituído, serviço que será feito sem dificuldade na sua oficina de confiança.”

O especialista também orienta observar se a luz de freio fica acesa no painel de instrumentos do veículo, o que pode ocorrer em caso de vazamento. “A luz pode indicar defeitos diversos, servindo também como alerta para que você verifique o reservatório do fluido. Sendo assim, não perca tempo e leve o carro imediatamente para uma oficina para solucionar o problema”, diz.

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Fonte: direitonews

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