A Federação Internacional de Automobilismo (FIA), no original Federation Internationale de l’Automobile, em francês, pode ser reconhecida por um monte de coisas, menos pela sua transparência. Não são raros os casos de decisões polêmicas a portas fechadas, como o acordo com a equipe Ferrari de F1 em 2020, após um escândalo que até hoje nunca foi explicado.
No que diz respeito à história do automobilismo, porém, a FIA está ganhando muitos pontos com os fãs. Isso porque a federação mantém um site, aberto a qualquer interessado, onde podem ser encontradas cópias originais dos formulários de homologação de modelos de fábrica para competição, em grande número, até os anos 1990. Bacana mesmo é que no site é possível fazer buscas por fabricante, modelo e até por país de origem. E o Brasil, sim, faz parte da lista.
Ali podem ser encontradas diversas fichas de homologação de vários modelos nacionais que, em algum momento, ganharam versões para competir em muitas categorias do automobilismo brasileiro. Alguns deles nem chegaram efetivamente a disputar provas, mas ficou registrada, no arquivo da FIA, a intenção da montadora de colocar aquele determinado modelo para correr em algum campeonato nacional chancelado pela federação internacional.
As fichas, que podem ser baixadas em PDF, são registros preciosos de época. Trazem detalhes dos modelos, especialmente técnicos, incluindo fotos de peças e componentes como motor, carburação, freios e suspensão, além de ficha técnica completíssima.
No arquivo da FIA constam 27 carros nacionais homologados. A Volkswagen é a marca que mais aparece, com 14 homologações concedidas: Fusca 1.600 para o Grupo A e para o Grupo 1 em 1981, Gol 1.6 refrigerado a ar também para os Grupos A e 1 em 1981, Passat TS em 1981 igualmente para os dois grupos, Gol 1.6 a gasolina e a álcool refrigerado a ar em 1984, Passat 1.6 em 1984, Voyage 1.6 a gasolina e álcool em 1984, Fusca 1.600 em 1987, Gol 1.6 refrigerado a água em 1987 e, por último, o Gol GTI, este já no ano de 1990.
Na sequência, em número de aparições, vem a Fiat, que obteve registro para competição em seis oportunidades: 147 a álcool para os Grupos A e 1 em 1981, 147 Rally para o Grupo 2 também em 1981, 147 a álcool para o Grupo A em 1984 e Oggi e Spazio a álcool no mesmo ano.
A General Motors aparece em seguida, com cinco homologações concedidas pela FIA, todas em 1984: Chevette 1.6 a álcool e gasolina para o Grupo A, Opala 250S para o Grupo B e os Monza hatch com motores 1.6 e 1.8 a álcool para o Grupo A.
A Ford Brasil só tem uma homologação registrada, do Escort 1.6 a álcool para o Grupo A em 1984. Outra empresa que também consta nos registros solicitados à federação internacional é a Simca do Brasil, que obteve homologação de competição para o Tufão Vedette Rallye em 1963.
Um fator interessantíssimo dessas homologações é que as montadoras tinham — obrigatoriamente — de informar os volumes de produção dos modelos nos 12 meses anteriores, um dado que geralmente as companhias não gostam de mostrar publicamente. Com isso, agora sabe-se, por exemplo, que apenas 317 Opalas 250S foram produzidos no ano de 1983. E também que, de março de 1989 a fevereiro de 1990, foram fabricadas pouco mais de 5 mil unidades do Gol GTI.
No caso do modelo da Volkswagen, a carta timbrada da empresa contendo a informação foi assinada por Ronaldo Berg, então responsável pela Assistência Técnica Produto/Competições. Coincidentemente, ele viria a ser um personagem da Autoesporte muito tempo depois, na edição de número 500, de janeiro de 2007: era dono de uma espetacular coleção de todas as edições da revista até ali, inclusive a número zero. Há alguns anos, esse tesouro foi doado ao Museu da Imprensa Automotiva, o Miau.
Voltando ao material da FIA, dá para perder facilmente horas e horas escarafunchando esse belíssimo arquivo. Para quem tiver tempo e disposição, o endereço é https://historicdb.fia.com.
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Fonte: direitonews