As últimas eleições na Angola em 24 de agosto foram importantes por várias razões, de acordo com Gilson Lázaro, professor associado de sociologia na Universidade Agostinho Neto de Angola e colaborador de pesquisa no Centro de Estudos Africanos da Universidade Católica de Angola.
“A primeira tem a ver com a mudança demográfica, já que a maioria dos eleitores são jovens com idades entre 17 e 25 anos. A segunda razão é política e também geracional. Houve uma mudança de presidentes, tanto no MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola], o partido que tem governado até agora, quanto na UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola], o partido da oposição”, explicou ele à Sputnik.
No entanto, apesar da subida da popularidade da UNITA nos últimos anos, com o apoio crescendo de 27% em 2017 para 44% hoje, e mesmo com uma vitória na capital em Luanda, o MPLA conquistou uma pequena maioria absoluta nacional de 51%, permitindo ao presidente angolano João Lourenço governar sem negociar.
A UNITA desafiou os resultados por supostas irregularidades eleitorais, mas, na opinião de Yuri Bakharev, secretário executivo do Conselho Empresarial Angola-Rússia, vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Angola-Rússia e representante da Afrocom Rússia em Angola, ela não terá sucesso, e também não haverá agitação social.
Para ele, que também falou à Sputnik, o MPLA mereceu ganhar porque o início da recente crise econômica no país africano coincidiu com a primeira vitória de Lourenço, antes de ser seguida por fatores externos como a pandemia, crise energética e outros. No entanto, ele aponta o crescimento da popularidade da UNITA como um desafio e incentivo para o MPLA trabalhar melhor no objetivo de resolver os problemas do país.
Bakharev opina que a UNITA é popular entre os jovens angolanos por suas “promessas populistas sem fundamento” e que o partido parece não ter um plano coerente para governar o país. A insatisfação com o alto desemprego e as dificuldades econômicas sob o MPLA são outros dos fatores aliciantes.
Influência ocidental
Adalberto Costa Júnior, presidente da UNITA desde 2019, é considerado um candidato pró-ocidental, tendo vivido e viajado entre 1975 e 2002 em Portugal, outros países europeus, Israel e nos EUA, referiu Jon Schubert, antropólogo político na Universidade de Basileia, Suíça, e observador de longa data de Angola, à Sputnik.
Segundo Yuri Bakharev, a União Europeia e os EUA têm interesse nos recursos energéticos angolanos, estimados em nove bilhões de barris de petróleo e mais de 300 bilhões de metros cúbicos de gás não explorados. Isso ficou claro especialmente depois que os preços do petróleo caíram em 2014 e 2015, quando tanto Washington como Bruxelas intensificaram a investigação de casos de corrupção em Angola. Apesar disso, ele não viu evidências de envolvimento externo nas últimas eleições.
Relações com a Rússia e a China
O secretário executivo do Conselho Empresarial Angola-Rússia mencionou as relações sino-africanas, que levaram a um aumento do investimento no continente, mas explicou que o dinheiro resultante dos projetos vai para empresas da China ou empresas locais criadas pelos chineses.
Em contraste, Bakharev lembra a antiga cooperação angolano-soviética, que previa investimento na saúde, comércio, infraestrutura e educação, ao mesmo tempo que combatia a presença colonial de Portugal no território. Ela é a base para uma possível nova cooperação entre Angola e a Rússia, disse.
O especialista sugeriu cooperar em projetos tais como ferrovias, construir uma usina hidrelétrica de 600 megawatts no rio Cunene, que também serviria a Namíbia, e investir em hardware de TI, automação de processos de gestão e redes seguras, o que, segundo ele, permitiria levar a relação bilateral a um novo nível.