Lugar de mulher é onde ela quiser, e se for na carreira de Propriedade Intelectual (PI), quem mais ganha é a sociedade. É isso o que destaca a campanha anual da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e o que reforçou o webinar realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), na última semana, ainda alinhado com as celebrações do Dia Mundial da Propriedade Intelectual. Cinco profissionais mulheres que atuam e têm carreiras consolidadas na área discutiram os desafios e a importância do papel feminino da PI na indústria.
A Propriedade Intelectual tem papel decisivo no estímulo à inovação e ao desenvolvimento econômico. Das invenções que promovem enormes transformações às que impactam em menor proporção, todas têm como aliada a PI – que garante que produtos, processos, marcas e outros ativos sejam protegidos juridicamente por determinado tempo contra usos não autorizados, além de permitir exclusividade na comercialização e busca pelo retorno sobre o investimento.
Quando concedidos e usados de forma justa e equilibrada, os direitos de PI aceleram a disseminação do conhecimento e promovem mais desenvolvimento a partir da transferência de informações.
Assista o webinar na íntegra:
Número de mulheres em profissões de STEM ainda é pequeno
A participação feminina nas áreas de PI, que vai além da invenção e da pesquisa, soma a este cenário. E embora tenha ocorrido algum avanço, o número de mulheres atuando no setor e em profissões de STEM (na sigla em inglês, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) ainda é reduzido, mesmo com oportunidade salarial melhor e projeção de carreira mais promissora.
A OMPI estimou que em 2022 as mulheres foram responsáveis por apenas 16,5% das invenções de tecnologias em pedidos de patente depositados nos termos do Tratado de Cooperação de Patentes (PCT). Neste contexto, segundo a organização, a paridade entre inventores só será compensada em 2068.
Especialistas reforçam relevância das mulheres na inovação e criatividade
Mediadora do webinar realizado pela CNI, a gerente de Política Industrial da instituição reforçou a importância das mulheres nas áreas de inovação e criatividade para o desenvolvimento do país e lembrou que o incentivo à participação feminina deve ser antes mesmo da formação. Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial, do total das graduadas, as mulheres ainda se formam menos nas áreas de engenharia, por exemplo.
A especialista em Desenvolvimento Industrial do Observatório Nacional da Indústria, Anaely Machado, também chamou atenção para o ingresso de profissionais mulheres nas áreas de STEM. Segundo ela, muitas meninas que ingressam nessas áreas estão nos setores relacionados a saúde e bem-estar, que são muito importantes, mas também é preciso ocupar áreas como a de engenharia – tão importantes no processo de inovação.
“As mulheres têm competência e estão preparadas para seguir por esse caminho. Por isso é importante o incentivo, para que sigam esse trajeto e se tornem pesquisadoras”, afirmou Anaely.
Especializada em Propriedade Intelectual, Tecnologia e Inovação, a advogada Neide Bueno engrossou o coro em relação ao desequilíbrio de gênero em profissionais da área, apesar de reconhecer que há um crescimento da participação feminina em determinados segmentos, como nos escritórios que atuam com as questões jurídicas do sistema de PI, e que podemos avançar mais.
“O empoderamento das mulheres estimula a produtividade e também o crescimento econômico, isso é fato. E é fato também que a mulher está presente na história da humanidade com características inovadoras e criativas. No caso das indústrias, a adoção de uma política de igualdade de gênero é o caminho para que elas tragam mais ideias e novas perspectivas para os negócios”, afirmou Neide.
Instituições avançam com iniciativas de incentivo
Se depender das instituições envolvidas no sistema de PI, a desigualdade de gênero em atividades de inovação e criatividade está com os dias contados. A Oficial de Programas da OMPI, Maria Fernanda Paresqui, participou das discussões do webinar e reforçou os esforços em prol da inclusão e da diversidade em todas as áreas das ações da organização, como forma de garantir o desenvolvimento de ecossistemas de inovação acessíveis a todos os gêneros.
“A nova visão estratégica da OMPI é levar a Propriedade Intelectual para todos e em todos os lugares, ou seja, fazer com que a PI seja entendida como uma ferramenta para agregar valor, negócios às atividades criativas. E está no arcabouço geral focar em mulheres, em jovens. Acreditamos que ações concretas causam impacto”, afirmou Paresqui.
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) também avança com as medidas para aumentar a presença de mulheres no sistema de inovação e criatividade. A coordenadora do Comitê Estratégico de Gênero, Diversidade e Inclusão (CEGDI) do Instituto, Rafaela Guerrante, falou das diversas atividades realizadas, com destaque para o primeiro estudo que analisa impactos das ações de disseminação do INPI no uso do sistema, considerando PI, gênero e etnia.
“As mulheres precisam ver mais delas no campo de tecnologia e entender que aqueles também são espaços delas. Um estudo mostrou que teríamos um incremento no PIB de US$ 410 bilhões com a entrada de mais mulheres na economia e em cargos de liderança. As mulheres precisam se fortalecer em redes. Precisamos sensibilizar as lideranças e ter mais mulheres em cargos de liderança”, disse a pesquisadora.
Fonte: portaldaindustria