“Mas por trás de todas as datas memoráveis Enxerga-se a mais importante, uma em especial – O dia em que ela nos tornou soldados De um país entrando em combate mortal.”
VIKTOR KOCHETKOV (1923–2001) – participante da guerra, organizador do batalhão Komsomol.
Nesse dia especial, a Praça Vermelha em Moscou tornou-se novamente palco de um tradicional desfile militar, que contou com a presença de veteranos da Segunda Guerra Mundial, bem como de líderes estrangeiros das ex-repúblicas soviéticas e participantes da operação militar especial.
Mais do que a celebração pela Vitória contra a Alemanha nazista, a data relembra a memória dos que entregaram sua vida heroicamente para derrotar o fascismo, demonstrando ao mesmo tempo a resiliência russa frente aos inimigos do passado e do presente.
Quanto ao Dia da Vitória, muitos analistas no Ocidente têm cinicamente criticado a Rússia por uma suposta utilização das memórias da Segunda Guerra Mundial como forma de preencher uma espécie de vácuo emocional, que teria se abatido sobre o país após o colapso da União Soviética.
Ao mesmo tempo, esses mesmos críticos consideram as celebrações do dia 9 de maio como uma relembrança de tempos em que a Rússia atingira o status de superpotência no cenário internacional.
Contudo, a Rússia não busca exatamente preencher nenhum vácuo emocional e sim honrar os feitos e as conquistas de sua própria história, e tampouco o país pleiteia um papel de superpotência mundial, como alguns tem afirmado.
© Sputnik / Grigory SysoevOs sistemas de mísseis balísticos intercontinentais russos Yars dirigem na Praça Vermelha durante uma parada militar do Dia da Vitória, que marca o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Moscou, na Rússia
Os sistemas de mísseis balísticos intercontinentais russos Yars dirigem na Praça Vermelha durante uma parada militar do Dia da Vitória, que marca o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Moscou, na Rússia
© Sputnik / Grigory Sysoev
A Rússia de hoje tão somente procura defender seus interesses nacionais e de segurança, ao mesmo tempo em que não se deixa esquecer das mais de 25 milhões de vidas soviéticas (entre civis e militares) que foram sacrificadas pela Vitória na Segunda Guerra Mundial. Nenhum outro país derramou tanto sangue quanto a União Soviética para a derrota do nazifascismo.
No passado, os próprios Aliados (Estados Unidos e Reino Unido) reconheceram esse fato, quando na Conferência de Yalta (na Crimeia) as partes definiram que dos US$ 22 bilhões (R$ 110 bilhões) calculados como reparação de guerra a ser paga pelos alemães, 50% desse montante deveriam ser destinados exclusivamente à União Soviética.
Alguns países ocidentais, por outro lado, parecem ter se esquecido de que a existência e a independência política de que usufruem hoje se deu justamente às custas do sangue russo e do sangue dos povos que compunham a União Soviética em sua luta contra a Alemanha de Hitler.
Todavia, apesar da atual ingratidão da Europa para com os russos, que se manifesta pela remoção em diversos países europeus de monumentos em homenagem aos soldados soviéticos caídos, Moscou continua aberta ao diálogo com o Ocidente baseado na justa consideração de seus interesses nacionais.
No mais, como afirmou o próprio Vladimir Putin durante seu discurso na Praça Vermelha, não existe nada mais poderoso do que a união, do que o amor à pátria, e certamente a Vitória soviética sobre a Alemanha nazista só foi possível devido a esse sentimento, que se reflete na própria essência do povo russo e que foi determinante em sua luta heroica e sacrificial contra o fascismo.
Hoje, por sua vez, Putin lembrou que uma nova guerra foi mais uma vez levantada contra a Rússia. Uma guerra que ocorre ao mesmo tempo em vários fronts: informacional, econômico e também no próprio campo de batalha. É nesse contexto que se dá o apoio dos Estados Unidos e dos países europeus ao prolongamento do conflito na Ucrânia, por meio do envio de armas e de apoio financeiro a Kiev no intuito de derrotar a Rússia a todo custo.
Para além dessa questão, o presidente russo também fez menção às elites globalistas do Ocidente, que vêm cada vez mais se posicionando no sentido de afirmar o excepcionalismo de seus valores, utilizando-se de métodos que visam dividir sociedades ao redor do mundo.
© Foto / Akylbek BatyrbekovPessoas carregam retratos de parentes, participantes da Grande Guerra Patriótica, enquanto fazem parte do Regimento Imortal durante as comemorações do Dia da Vitória, marcando o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Bishkek, Quirguistão
Pessoas carregam retratos de parentes, participantes da Grande Guerra Patriótica, enquanto fazem parte do Regimento Imortal durante as comemorações do Dia da Vitória, marcando o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Bishkek, Quirguistão
© Foto / Akylbek Batyrbekov
Tais políticas são visivelmente apoiadas por determinados aparelhos de Estado, sobretudo aqui o norte-americano, sendo que o intuito por trás de seus ideais retorcidos é o de disfarçar ideologias expansionistas, baseadas na propagação de padrões específicos de cultura e de comportamento.
A Rússia já deixou bem claro que esses movimentos não são condizentes com as tradições e a história do país e continuará lutando para manter sua soberania cultural e política.
© Sputnik / Vitaly AnkovUm veterano da Segunda Guerra Mundial assiste ao desfile militar do Dia da Vitória ao lado de sua esposa no 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Vladivostok, Rússia, 9 de maio de 2023
Um veterano da Segunda Guerra Mundial assiste ao desfile militar do Dia da Vitória ao lado de sua esposa no 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Vladivostok, Rússia, 9 de maio de 2023
© Sputnik / Vitaly Ankov
Outro ponto importante levantado por Putin em seu discurso diz respeito à política empreendida pelo Ocidente de semear o ódio, a russofobia e sentimentos nacionalistas de tom agressivo em diversos Estados.
Vale lembrar que, desde o início dos anos 1990, a promoção de um nacionalismo extremado nas ex-repúblicas soviéticas, e particularmente na Ucrânia, era enxergada pelo Ocidente como uma forma de afastar esses países da influência russa.
Tratava-se, portanto, de uma inciativa que visava minar a influência de Moscou no espaço pós-soviético e de enfraquecer os laços naturais que existiam entre esses povos e a Rússia. Para além das ex-repúblicas soviéticas, no entanto, esse mesmo tipo de sentimento nacionalista também era apoiado pelo Ocidente nas repúblicas federadas dentro da própria Rússia.
© Sputnik / Aleksei MaishevA partir da esquerda, o primiê armênio Nikol Pashinyan, o presidente belarussi Aleksandr Lukashenko, o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, o presidente quirguiz Sadyr Japarov, o presidente russo Vladimir Putin, o presidente tadjique Emomali Rahmon, o presidente turcomano Serdar Berdimuhamedov e o presidente uzbeque Shavkat Mirziyoyev participam da colocação de flores no Dia da Vitória, que marca o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, no Túmulo do Soldado Desconhecido junto ao muro do Kremlin, em Moscou, Rússia, 9 de maio de 2023
A partir da esquerda, o primiê armênio Nikol Pashinyan, o presidente belarussi Aleksandr Lukashenko, o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, o presidente quirguiz Sadyr Japarov, o presidente russo Vladimir Putin, o presidente tadjique Emomali Rahmon, o presidente turcomano Serdar Berdimuhamedov e o presidente uzbeque Shavkat Mirziyoyev participam da colocação de flores no Dia da Vitória, que marca o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, no Túmulo do Soldado Desconhecido junto ao muro do Kremlin, em Moscou, Rússia, 9 de maio de 2023
© Sputnik / Aleksei Maishev
Por certo, algumas lideranças internacionais ansiavam naquela época pelo desmembramento do Estado russo e pelo sucesso das forças separatistas, o que acabou não ocorrendo dada a resiliência de Moscou na defesa de sua soberania e integridade territorial.
Ademais, os poderes hegemônicos, como lembrou em seu discurso o presidente russo, continuam a sufocar qualquer centro independente e soberano hoje no mundo, a fim de impedir o estabelecimento da multipolaridade nas relações internacionais.
Por isso mesmo as sanções aplicadas à Rússia depois de 2014 e com ainda mais força em 2022, cujo intuito era não só provocar o colapso econômico do país, mas também reduzir sua influência internacional e abalar assim a estrutura do governo Putin.
Nenhum desses três objetivos, para a infelicidade do Ocidente, acabou sendo atingido.
© Sputnik / Aleksandr KryazhevUm tanque T-34 da era soviética dirige durante um desfile militar do Dia da Vitória, que marca o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Novosibirsk, Rússia
Um tanque T-34 da era soviética dirige durante um desfile militar do Dia da Vitória, que marca o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Novosibirsk, Rússia
© Sputnik / Aleksandr Kryazhev
A Rússia, por sua vez, continua resistindo e continuará lutando para manter o direito de escolher o seu próprio caminho e destino. Em resumo, ao entrar mais uma vez em um combate mortal, os russos novamente recobram suas forças a partir da memória dos soldados caídos durante a Segunda Guerra Mundial.
Esse dia é um dia de homenagem ao seu heroísmo passado e uma homenagem à resiliência da Rússia frente aos adversários do presente.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
Fonte: sputniknewsbrasil