Fertilizantes químicos representam uma parte significativa dos custos da produção agrícola e, mais recentemente, um de seus riscos, considerando o risco de interrupção nas cadeias de comércio internacional. Uma alternativa a estes são os fertilizantes orgânicos, principalmente os dejetos líquidos da produção de suínos (DLS), que além de mais baratos também são uma opção mais sustentável do ponto de vista ambiental.
O uso de DLS, entretanto, também demanda análises de solo para determinar a quantidade necessária e as melhores formas de aplicação em cada plantação, como é feito corriqueiramente com o fertilizante químico. Mas este ainda é um processo trabalhoso e caro para muitos produtores.
Para resolver este problema e, assim, ampliar a segurança no uso dos fertilizantes orgânicos tanto para os produtores quanto para o meio-ambiente, cientistas do Grupo de pesquisa Estudos de Resíduos e Matéria Orgânica do Solo (GERMOS) e do Laboratório de Caracterização de Novos Materiais, ambos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso (Fapemat), começaram a estudar a caracterização de solos de MT adubados com DLS a partir de técnicas mais rápidos e que não envolvem reagentes químicos.
“Atualmente, a principal forma de medir as características do solo é com testes químicos, que dão muito trabalho e usam muitos reagentes, agregando ao custo e à poluição da produção agrícola. Nosso objetivo é substituir o uso desses reagentes por técnicas ambientalmente mais amigáveis, que possam oferecer a mesma segurança operacional para os produtores ”, explica a pesquisadora Ariane Isis Barros, do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical (PPGAT).
“Impressão digital” dos elementos químicos é parte importante da pesquisa
Estas técnicas utilizam radiação eletromagnética (luz visível, infravermelho, raio-x, etc.) para descobrir as características da amostra, como por exemplo os elementos químicos que a compõem.
O fundamento destas técnicas está no fato de que cada elemento químico têm um tipo de “impressão digital” relacionada à absorção e difração da energia eletromagnética. Por exemplo, se apontamos um feixe de luz branca para determinado elemento, ele vai absorver apenas algumas cores específicas, enquanto se apontarmos para outro, as cores absorvidas serão diferentes.
Na pesquisa, o grupo propõe três técnicas que utilizam deste fundamento, uma usando luz infravermelha para caracterização química do solo; outra usando raios-X para caracterização mineralógica; e outra usando microscopia eletrônica para mapear os elementos presentes em cada compartimento do solo. “Essas são técnicas relativamente rápidas e versáteis”.
Para que haja o uso correto destas, é necessário entender melhor os efeitos do DLS no solo ao longo do tempo e “calibrar” as técnicas de análise para que os dados possam ser devidamente interpretados. “Mas devido à sensibilidade das técnicas às variações da composição do solo, temos o desafio de desenvolver modelos capazes de compreender estas variações para entregar resultados confiáveis”, afirma a pesquisadora.
Com este objetivo, o projeto utilizará amostras de solo cultivados com soja, milho e pastagens, em diferentes profundidades e com diferentes tempos de aplicação do DLS. Em seguida, fará a caracterização química e mineralógica das amostras com as três técnicas sugeridas e ainda uma quarta, chamada “Espectrometria de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-OES)”.
“Esse é o método proposto pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e utilizaremos seus resultados para quantificar os metais nas amostras de solo e obter valores de referência que serão comparados com as técnicas que estamos propondo”. A pesquisa, coordenada pela professora Oscarlina Lúcia dos Santos Weber, ainda está em fase inicial, mas deve apresentar resultados a partir de 2024.
Se os pesquisadores alcançarem os objetivos propostos, o uso de dejetos da produção suína como fertilizantes orgânicos poderá ser feito com mais segurança e responsabilidade pelos produtores de Mato Grosso, diminuindo os custos e possíveis problemas ambientais, além da dependência de importação de outros tipos de fertilizantes.
Fonte: ufmt