Não é de hoje que a inflação para os motoristas é maior do que o índice IPCA, considerado a inflação oficial do país. Tanto é que o preço médio do carro 0 km o subiu 7,7% em um ano e já custa R$ 141.487,61, praticamente o dobro do valor do automóvel novo de entrada do Brasil, o Renault Kwid (R$ 68.190). Os dados são consultoria JATO Dynamics.
Os dados divulgados pela consultoria JATO Dynamics mostram que a inflação do veículo 0 km foi 2,1 pontos percentuais acima do índice IPCA, cujo acumulado dos últimos 12 meses em fevereiro de 2023 foi de 5,6%. O levantamento também aponta que, em cinco anos, o valor médio do carro novo no Brasil saltou assustadores 90% – de R$ 74.313,90 subiu para R$ 141.487,61.
O maior aumento aconteceu durante a pandemia, quando as fabricantes tiveram de lidar com paralisações devido ao lockdown provocado pela pandemia da Covid-19 e falta de peças (em especial semicondutores). Dessa fora, entre fevereiro de 2021 e fevereiro de 2022, o preço médio do veículo novo subiu 37,5%.
Como resultados, estão cada vez mais raros os carros que custam menos de R$ 100 mil. Modelos conhecidos como populares, como Hyundai HB20, Fiat Cronos e Chevrolet Onix, já têm versões que chegam aos seis dígitos. Até mesmo o Renault Kwid, o carro de entrada do Brasil (para não falarmos “mais barato”) já custa R$ 68 mil. Para comprá-lo, é necessário que o brasileiro dispenda 50 salários mínimos, ou gaste mais de quatro anos de trabalho para comprar o compacto.
Em comparação, há quatro anos o consumidor precisava juntar o equivalente a 28 salários mínimos para comprar o (então) carro mais barato do Brasil, um Chery QQ (R$ 26.690).
Onde está o problema?
De acordo com Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o que mudou nestes anos foi a perda de poder de compra da população brasileira. O executivo conta que a associação chegou a corrigir os valores dos veículos vendidos na época em que o ex-presidente Itamar Franco estava no poder (1992-1994).
Surpreendentemente, a simulação identificou que o carro mais barato da época – o Volkswagen Fusca Itamar – custaria R$ 80 mil nos dias de hoje seguindo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). Esse valor é R$ 10 mil maior do que o preço do carro de entrada do país.
Durante a coletiva de imprensa promovida pela Anfavea, foi revelado que o governo federal estuda formas de estimular o consumidor a comprar carros novos, reaquecer a indústria ao mesmo tempo em que renova a frota brasileira. Uma das propostas pautadas junto às montadoras é a volta do carro popular, mas movido somente a etanol. A ideia é que os veículos poluam menos – por não usarem gasolina – e custem entre R$ 45 mil e R$ 50 mil.
Outro projeto sob análise visa liberar parte do FGTS do trabalhador para compra do veículo novo.
Nesse sentido, o presidente da Anfavea defende incentivos para que os brasileiros voltem a comprar, mas acredita que o carro popular movido a etanol possa “limitar a tecnologia”. Em sua opinião, outras montadoras conseguem entregar carros de eficientes e com um baixo índice de emissão sem que esses, obrigatoriamente, sejam movidos a etanol.
Tanto a Anfavea, quanto a Fenabrave – associação que representa os concessionários – defendem que haja uma facilidade de acesso ao crédito que estimule a compra no varejo (e não só nas vendas diretas).
José Maurício Andretta Jr, presidente da Fenabrave, acredita que o maior empecilho para a compra de carro zero-quilômetro no momento está no preço alto, além da dificuldade de fornecimento de crédito por causa dos juros. A associação afirma que pretende manter a projeção de vendas de automóveis e comerciais leves em 2 milhões de unidades, mas declara que está esperando uma sinalização melhor do governo.
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Fonte: direitonews