Durante a atividade, Adalberto explicou que existe um lado da vida que deve ser tratado como patologia, em que devem ser utilizadas as formas medicamentosas disponíveis. Já para o outro lado da vida, que causa dor na alma, desgosto, angústia e decepção, não há tratamento com remédio químico, segundo o médico.
“Esse tipo de sofrimento deve ser tratado pela comunidade usando recursos que ela mesma dispõe, como ervas medicinais, farmácias vivas, benzedeiras, rezadeiras, abraços e acolhimento”, diz o psiquiatra.
O acolhimento das terapias comunitárias ressignificou a vida da terapeuta Vera Rondon, de 57 anos, que, após a morte do marido, descobriu nos encontros um novo sentido para viver. “Eu me via num lugar de sofrimento, sozinha, em luto, e com um diagnóstico de pré-câncer. Hoje saio daqui com a certeza de que a humanidade tem jeito. É possível ajudar as pessoas de uma forma simples, através do acolhimento e contato olho no olho”, acredita a terapeuta.
Já a professora aposentada Vanda Baldine, de 59 anos, enxerga o encontro como se fosse um espelho, em que uma pessoa se vê na outra. “A terapia mostra a ferida de um que está presente em todos e a gente se identifica com a dor do outro. Isso torna as trocas mais humanísticas e verdadeiras”, pontua Vanda.
Contente com o resultado da qualificação com os educandos da Terapia Comunitária Integrativa, a diretora da Escola de Saúde Pública (ESP-MT), Silvia Tomaz, conta que a SES, por meio da ESP, deve formar neste ano cerca de 30 educandos como terapeutas comunitários.
“A gestão está atenta à promoção da saúde mental e trabalha para disseminar essa prática integrativa de origem brasileira nos municípios do Estado. Dessa forma, a principal beneficiada será a população, que contará com mais essa estratégia para suas dores, para além dos tratamentos farmacológicos”, acrescenta Silvia.
A responsável técnica da Unidade de Praticas Integrativas do Horto Florestal, gerida pelo município de Cuiabá, Nens Morena Preza, entende que a troca de experiências durante a roda de conversa é positiva devido às dores comuns. “Quando a boca cala, o corpo é quem fala, e essa fala do corpo são sintomas de que algo de ruim está acontecendo. Por isso é importante essa troca”, acredita Nens.
Sobre a terapia
A Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa (TC) foi criada em 1986 por Adalberto Barreto. A modalidade visa tratar da saúde comunitária em espaços públicos, procurando acolher o sofrimento pessoal e social, tanto no plano individual quanto por meio do fomento às redes de apoio, convivência e solidariedade.
Adalberto conta que a prática se propõe a valorizar a prevenção ao adoecimento, sobretudo estimulando o grupo a usar de sua criatividade, ressignificando o presente e futuro a partir de seus próprios recursos.
“A terapia comunitária é um instrumento de intervenção psicossocial que respeita e valoriza os recursos culturais locais. Ela dá mais autonomia e reduz a medicalização do sofrimento. Esse trabalho extramuros, fora dos Caps e dos hospitais, sai mais barato e é mais acessível”, avalia o médico.
Até o momento, mais de 60 mil pessoas foram capacitadas na modalidade em todo o Brasil. Atualmente, existem 46 polos formadores dessa metodologia e está sendo implementado pela SES em Mato Grosso. A prática já está presente em 43 países.
Fonte: mt.gov