Conheça o mistério do Hyundai HB20 que “nunca existiu”


Calma lá, o carro existe. Não é um fantasma automotivo nem nada do tipo, mas sim uma configuração de que, provavelmente, você nunca nem ouviu falar. O Hyundai HB20 é um hatch de sucesso que nem precisa de muitas explicações: foi lançado em 2012 e não demorou a se tornar um dos carros mais vendidos do mercado nacional, seja pelo design bem resolvido, seja pela mecânica interessante.

O primeiro Hyundai nacional foi apresentado em setembro de 2012 com duas opções de motor (1.0 e 1.6), duas de transmissão (manual de cinco marchas ou automática de quatro), quatro versões (Comfort, Comfort Plus, Comfort Style e Premium) e preços entre R$ 32 mil e R$ 48 mil.

As cores de carroceria eram preto, branco, prata, cinza, vermelho, azul e um marrom que acabou não ficando muito tempo no catálogo. O preto também saiu de cena no ano seguinte.

Mas e o verde? Um verde limão metálico, parecido com aquele que estreou no Ford New Fiesta 2010, já viu em um HB20? Se você estranhar, fique tranquilo, já que ele é mais raro que muito superesportivo por aí.

Vou explicar essa configuração raríssima de um dos carros mais queridinhos do mercado nacional na última década que nunca chegou ao grande público. Mas, antes, explico como encontrei esse carro.

Já tinha ouvido falar do tal HB20 verde e visto algumas fotos. Ao vivo, porém, nem pensar. Por coincidência, acabei encontrando um anúncio na internet de um à venda em uma loja de carros usados não muito longe de mim. O pessoal da revenda falou que aquela era uma “série limitada”, o que não está tão errado assim.

Apesar do número de chassi relativamente alto (00132, maior do que o de muitos carros de imprensa), o pequeno Hyundai verde fazia parte dos primeiríssimos lotes de produção, o que se comprovava por detalhes internos como o rádio com CD player original Hyundai (presente apenas nas unidades de 2012), além da iluminação em tom verde dos comandos e outras miudezas de acabamento.

O carro não estava na loja havia muito tempo, e despertava a curiosidade de muita gente que corria para vê-lo. O modelo chegou lá por meio de um particular – mais especificamente uma senhora, com quem cheguei a conversar. Ela ficou com o carro por oito anos e diz “nunca ter visto outro igual”.

O HB20 verde havia sido encontrado por seu filho e foi paixão a primeira vista. Ela ficou com aquele exótico (mas tão comum) Hyundai. Só estava trocando de carro para pegar outro mais novo e atual. E, coincidentemente, naquela loja perto de mim.

O carro, mesmo com dez anos de uso e pouco mais de 93 mil km no hodômetro, está muito bem cuidado: por dentro, por fora e na mecânica, e todos os equipamentos funcionam normalmente. Infelizmente já não tem o manual do proprietário e os registros de manutenção periódica na garantia (uma pena, porque isso ajudaria muito na história).

Mesmo assim, fica claro que esse HB20 foi bem cuidado. Não aparenta ter nem mesmo retoques na pintura, o que, cá entre nós, deve ser um trabalho complicado dada a raridade desse tom por aqui. Apenas desgastes normais pelo tempo de uso e pela quilometragem.

Ele é da versão intermediária Comfort Style, mas mantém o compacto (e pioneiro) 1.0 três cilindros Kappa aliado ao câmbio manual de cinco marchas. Por isso, já é mais “ajeitado” no visual: tem maçanetas e retrovisores na cor da carroceria, rodas de liga aro 15, faróis de neblina, detalhes mais caprichados no interior e por aí vai. Um carrinho bacana que, quando novo, custava menos de R$ 40 mil. Bons tempos…

Até aí, tudo bem: um HB20 2013 numa versão comum, com mecânica padrão e nada de especial no design – exceto a cor, que inclusive leva muitos a pensarem que seria plotagem ou envelopamento. Basta olhar os adesivos de fábrica e até a plaqueta metálica de identificação colados nas posições originais para ver que aquela pintura é, sim, de fábrica. Fora o fato de que tudo é monocromático, desde parafusos até dobradiças. Tudo verde.

Logo após conhecer a “viatura”, corri para falar com a Hyundai e tentar descobrir a origem daquele carro tão exótico, que nem constou nos catálogos da época. As pessoas da assessoria de imprensa, que assumiram o posto quando o HB20 já era um sucesso de vendas, desconheciam a unidade e até ficaram surpresas. De cores diferentes, conheciam só o marrom escuro, nada de verde limão. O jeito era caçar quem, lá de dentro, havia participado do lançamento do hatch uma década atrás.

Não confirmaram, mas aquela é sim uma unidade de pré-série, feita provavelmente meses antes do início da produção comum. Basta olhar algumas peças e componentes datados do início de 2012 para comprovar: coisas fabricadas em fevereiro, março, abril…bem antes do lançamento oficial, em setembro.

Segundo a marca, o HB20 verde (ou “HBVerde”, um apelido mais simples) ficou na fábrica por algum tempo, servindo para usos diversos, só depois foi colocado à venda para o público. Talvez tenha sido até protótipo de alguns testes, mas, como reiterou a fabricante, “cumpre todos os requisitos necessários para registro, licenciamento e circulação”.

Apesar disso, não informaram quantas unidades foram pintadas nessa raríssima cor, que tem uma irmã-quase-gêmea no exterior chamada Lime Rock Green. Genesis, Kona e outros sucessos da marca foram oferecidos nesse tom. Aqui no Brasil, foram tão poucas as unidades do “HBVerde” que a cor nem chegou a ganhar nome oficial.

A verdade é que, provavelmente, alguns carros pré-série verdes foram feitos para experimento de mercado e estilo, e não deram certo por algum motivo – alguém importante não gostou do resultado, as pesquisas de mercado vetaram ou houve algo com a produção, por exemplo.

Existem enormes chances ainda de esses carros terem sido pintados à mão, já que a preparação da linha de produção, especialmente no setor de pintura, é complicada e seria um belo prejuízo adequar o maquinário e os robôs para a montagem de apenas alguns carros daquela configuração específica.

A Hyundai não entrou em detalhes, mas possivelmente pegaram algumas carrocerias “no primer” (sem cor) e lá, na fábrica de Piracicaba (SP) mesmo, dentro de uma cabine de pintura, criaram esses “HBVerde” tão especiais.

De tão raro, só existem registros fotográficos na internet de um único HB20 pintado nesse tom de verde, e não é esse que encontrei, e sim um Premium 1.6, topo de linha. As fotos são de divulgação da época, quando jornalistas foram convidados para guiar a novidade.

Em todas as imagens ele está camuflado, como protótipo, e tinha como companheiro um (menos raro) marrom. Números oficiais de produção do HB20 verde limão não existem, mas certamente nasceram menos de dez carros desses. Mais exótico que cabeça de bacalhau!

Quem diria que um hatch tão comum, que já é produzido há dez anos e em inúmeras configurações, possa ser, ao mesmo tempo, uma raridade dessas. E, para quem quer saber e está curioso, o carro que encontrei foi vendido logo depois para alguém que, tanto quanto sua antiga proprietária, se apaixonou pela exclusividade do hatch verde.

Provavelmente isso vai virar lenda no futuro, então fica aqui o registro do HB20 que “nunca existiu” em catálogos, concessionárias, registros de fábrica e por aí vai, mas, na verdade, pode estar escondido em alguma loja de carros usados perto de você.

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Fonte: direitonews

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