RIO DE JANEIRO, RJ – Estrela do filme “Grease: Nos Tempos da Brilhantina” e dona do hit “Physical”, a atriz e cantora Olivia Newton-John morreu no dia 8 deste mês aos 73 anos enquanto tratava um câncer de mama metastático, doença que enfrentava usando óleo de cannabis.
Ela recebeu o primeiro diagnóstico de câncer de mama em 1992. Após 25 anos de remissão, Olivia anunciou em 2017 que a doença havia voltado e se espalhado para a região lombar. Em 2013, ela também foi diagnosticada com um tumor no ombro.
A artista era defensora da cannabis para combater dores oncológicas. “O alívio da dor foi incrível assim que comecei a usar. Eu sou a prova viva de que o uso da cannabis funciona”, disse ela em entrevista ao programa Dr. Oz Show.
Já em um documentário, ela afirmou que todo paciente de câncer deveria ter a chance de experimentar a cannabis e que garantir seu uso seria uma questão de bom senso e de compaixão.
A atriz criou uma fundação dedicada à pesquisa do câncer e da medicina vegetal para tratar a doença. Segundo o site da instituição, há pelo menos cinco estudos em andamento. Todos eles são relacionados à atuação de plantas no combate ao câncer.
De acordo com a oncologista Fabiana Makdissi, líder do Centro de Referência em Tumores da Mama do AC Camargo, a cannabis é uma das alternativas para o tratamento de dores crônicas e oncológicas.
“Cada tipo de câncer vai pedir um tratamento específico. No caso do uso da cannabis para tratar dor, é algo que existe liberação em alguns países. Olivia estava pedindo a liberação na Austrália e discutindo a legalização lá”, diz a médica, acrescentando que, no Brasil, existe a possibilidade do uso da cannabis para o tratamento de algumas doenças.
Em 2017, a Avisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou pela primeira vez um medicamento à base de cannabis e, desde 2019, mais de 15 produtos já foram liberados pelo órgão em uma categoria que permite a importação temporária dos fármacos.
Em virtude da flexibilização, os pedidos para importar produtos de cannabis medicinal mais do que dobraram em 2021 em relação ao ano anterior.
No último ano, foram 40.191 novas solicitações de importação de medicamentos com canabidiol, 110% a mais do que em 2020, quando foram registradas 19.150 importações. Os dados são de um levantamento da BRCANN (Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides).
Segundo José Almeida, imunologista e especialista em medicina canábica, o produto pode auxiliar o paciente a não ter que aumentar a dosagem de remédios para dores crônicas. “O paciente com dor toma vários medicamentos e uma característica desses casos é ter que aumentar cada vez mais a dose”, explica.
“Quando você oferece o tratamento da cannabis para o paciente com dor, você faz o que a gente chama de medicina integrativa. Você não trabalha só a dor, mas também o consciente do paciente, o psicológico dele e os receptores de dor.”
O médico acrescenta que, em alguns casos, o uso da cannabis pode auxiliar o paciente a deixar de tomar medicamentos que têm efeito colateral. “Com a cannabis, a gente melhora a dor e o emocional de uma forma mais completa. Eu estou tratando o paciente como um todo.”
No entanto, se a doença for muito agressiva, a dosagem da cannabis pode ter que aumentar, afirma o especialista. No caso de Olivia Newton-John, uma sobrinha da artista disse que os óleos já não faziam efeito como antes e que ela sentia muitas dores nos últimos dias de vida.
“Mas não é que a cannabis deixe de fazer efeito, mas vai ser preciso ir ajustando a dosagem de acordo com o estágio da doença.”
Ele destaca a diferença entre a medicina canábica e uso da cannabis para fins recreativos. Ele diz que a concentração THC (substância com efeito psicoativo) na medicina canábica é inferior a 0,3%. Essa taxa, segundo ele, não tem efeito alucinógeno.
“É importante explicar para o leigo que o médico está prescrevendo um produto que vai tratar o problema dele baseado na ciência”, diz Almeida. “O médico não está prescrevendo maconha, e sim um óleo que tem comprovação científica para o tratamento daquele problema.”