Medicamento mais eficaz contra insônia deve chegar ao Brasil em 2023


Medicamento mais eficaz contra insônia deve chegar ao Brasil em 2023

Uma nova pesquisa revisou as evidências científicas de medicamentos utilizados para tratamento da insônia. O lemborexant, remédio que ainda não tem autorização para ser comercializado no Brasil, foi reconhecido como o mais eficaz, embora ainda não haja dados robustos sobre a segurança.


O fármaco é produzido pela farmacêutica Eisai. Luiz Silva, responsável técnico pela filial brasileira da empresa, afirma que o medicamento está em análise pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Segundo ele, a expectativa é que o lemborexant seja aprovado no primeiro semestre de 2023.

Caso isso realmente aconteça, “pretendemos disponibilizar o medicamento nas farmácias ainda no ano 2023, provavelmente, no segundo semestre”. Por enquanto, o remédio não tem estimativa de preço. Nos Estados Unidos, eles está aprovado pela FDA (agência reguladora de medicamentos e alimentos) desde 2019. No Reino Unido, ainda não não foi aprovado.

O estudo que chegou à conclusão favorável do lemborexant é uma revisão sistemática -ou seja, considera as evidências científicas de outros artigos já publicados. Assinado por pesquisadores da Universidade de Oxford, o novo artigo foi publicado na revista The Lancet em julho deste ano.

Vários medicamentos utilizados para tratamento da insônia em adultos foram considerados na pesquisa. O objetivo era compilar os resultados sobre os efeitos que os remédios têm em estudos que também contaram com grupo placebo (quando o participante não toma o remédio, mas sem saber dessa informação).

Os autores delimitaram quatro fatores para analisar a eficácia dos medicamentos: eficácia dos fármacos ao melhorar a qualidade do sono, taxa de descontinuidade dos tratamentos, efeitos colaterais e segurança dos medicamentos.

Então, foi possível comparar os remédios e concluir quais seriam melhores. Segundo os autores, a eszopiclona e o lemborexant tiveram os melhores resultados. O primeiro, no entanto, apresentou maiores efeitos colaterais.

Para Dalva Poyares, neurologista e membro da Associação Brasileira do Sono (ABS), o resultado não é tão surpreendente porque o efeito positivo do medicamento já era conhecido.

Ela explica que o remédio demonstrou uma boa eficácia sem causar muitos efeitos colaterais entre idosos. Essa faixa etária normalmente apresenta reações adversas com remédios para dormir, como confusão mental, mas o lemborexant apresentou resultados promissores. “Todo remédio para dormir tem um pouco dessas questões nos idosos”, diz.

Nova família de medicamentos Remédios como o lemborexant compõem a chamada família de antagonistas da hipocretina (ou orexina), uma substância presente no hipotálamo, uma pequena região do cérebro humano.

“A hipocretina está envolvida em vários processos do organismo. Comportamento alimentar e regulação cardiovascular são duas delas. Mas uma das principais funções é a vigília, deixar a pessoa acordada”, explica.

Em condições normais, a hipocretina tem uma queda da atividade durante a noite e, quando está perto do momento de acordar, a substância começa a agir e assim continua durante o dia.

Dessa forma, pesquisadores imaginaram que atuar junto à hipocretina poderia ser uma forma de tratar a insônia. Ao diminuir a atividade da substância durante a noite, isso induz o paciente ao sono por ela ter envolvimento com a vigília da pessoa.

“Esses remédios são chamados de antagonistas porque eles bloqueiam a ação da hipocretina e promovem o sono”, explica a neurocientista.

Ela também ressalta que esses tipos de remédios têm a vantagem de diminuir a chance de dependência. “A probabilidade é quase nula.”

Além do lemborexant, outros remédios dessa família de medicamentos já existem. O primeiro deles foi o almorexant. O medicamento, no entanto, não foi aprovado para uso porque apresentou toxicidade no fígado, diz Poyares.

Depois, veio o suvorexant, o primeiro aprovado. “Ele tinha o problema de que, se aumentasse a dose e melhorasse o efeito, causava efeito residual pela manhã (quando a pessoa continua sonolenta no outro dia). Isso o prejudicou”, afirma.

O lemborexant buscou superar o problema residual -segundo Poyares, o remédio conseguiu esse feito.

A neurocientista afirma que já existe outro medicamento mais recente da família que atua junto à hipocretina: o daridorexant. Ela explica que resultados de estudos já indicam que o remédio é promissor, mas, por ser muito novo, ele não entrou na revisão recém-publicada.

Não é para todos Se aprovado no Brasil, os resultados promissores não indicam que qualquer pessoa que sofra de insônia deve ir à farmácia para comprar o lemborexant. “Não é para 100% das insônias”, diz a neurocientista.

Poyares explica que uma situação em que o remédio talvez não seja o melhor é quando a insônia está associada a outra doença, como a depressão. Nesses casos, pode ser necessário a adoção de medicamentos que atuem também na outra condição a fim de ter os resultados positivos no sono.

Também há um consenso de que outras medidas não farmacológicas, como técnicas de higiene do sono, relaxamento e terapia cognitivo-comportamental, devem ser sempre priorizadas no tratamento da insônia.

A nova revisão sistemática ainda concluiu que, embora o lemborexant tenha tido os melhores resultados e demonstrado segurança nos estudos clínicos, esses últimos dados ainda não são muito robustos.

Na visão de Poyares, isso acontece em razão de o remédio ainda não ter muito tempo de mercado. Por isso, os dados de farmacovigilância (quando usuários relatam situações com o remédio) são escassos.

“Vamos dizer que daqui a cinco anos vão aparecer quatro relatos de pessoas que começaram a comer à noite. Isso pode acontecer”, exemplifica a neurocientista.

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