Volkswagen Polo Track é o que o Gol poderia ter sido se fosse modernizado; leia o teste


Quando eu era criança, meu pai, engenheiro civil, tinha um Volkswagen Gol como “carro da firma” para se deslocar nos locais de obra onde ele trabalhava, que eram basicamente estradas que estavam sendo construídas, como a rodovia dos Trabalhadores (que virou Ayrton Senna em 1994) ou o trecho Oeste do Rodoanel Mário Covas. Cresci com a imagem do hatch como sendo um carro robusto, que enfrentava terrenos difíceis e não quebrava à toa.

Corta para 2022: o Gol sai de linha depois de 42 anos, quase a minha idade (fui “lançada” um ano depois). Uma despedida que para muitos foi melancólica, já que o modelo fez parte da formação de diversas gerações de motoristas. Inclusive a minha, claro, que tive dois exemplares no currículo.

Mas por mais que o hatch desperte memórias, hoje não vamos falar do Gol (talvez só um pouquinho mais…), e sim de seu substituto. Porque a bola da vez é o Polo Track, que acaba de chegar às lojas para ocupar o lugar do veterano que se foi. Será que ele tem as armas para conquistar os coraçõezinhos órfãos dos fãs de seu antecessor?

E a resposta é bem direta: sim, ele tem. Porque o Polo Track simplesmente reproduz as características que deram certo no hatch que foi descontinuado e as combina com uma plataforma mais moderna e refinada. Ou seja, ele é o que o Gol poderia ter sido caso recebesse uma mais que necessária nova geração.

E se você se pergunta por que lançar um carro inédito em vez de dar uma chance de renovação ao Golzinho, a resposta é bem simples: mesmo que a cansada plataforma PQ 24 fosse trocada (pela MQB-A0 do Polo tradicional ou qualquer outra), o modelo teria de ser concebido praticamente do zero.

Dar um “tapa” no Polo para deixá-lo mais rústico, porém, é uma solução mais acessível e barata, já que qualquer empresa busca cortar custos na produção. Nesse caso, é uma vantagem também para o consumidor, que recebe um carro mais moderno pelo mesmo preço do anterior. Porque o Polo Track parte de R$ 79.090, basicamente o que custava o Gol antes de ter a produção encerrada.

Dessa forma, o Track tem a mesmíssima estrutura do Polo, mas recebe alguns retoques para ter seu visual próprio (mas sem esconder suas origens). Entre as mudanças estéticas estão os faróis um pouquinho maiores e halógenos, já que o “irmão” tem LEDs desde a versão de entrada. A grade também é exclusiva, maior (o que deixa o capô mais alto) e traz um padrão colmeia tanto na parte de cima como na de baixo.

Ele também tem altura em relação ao solo e ângulos de entrada e de saída ligeiramente maiores que os do Polo para, segundo a Volkswagen, atender aos clientes que precisam de um carro mais parrudo para enfrentar terrenos mais difíceis, como frotistas que usam o veículo para o trabalho (assim como foi com meu pai…).

Já a traseira muda menos, com para-choque que vem com acabamento de plástico embaixo, onde fica a placa, e o nome Track destacado no centro da tampa do porta-malas. As lanternas, porém, são idênticas às do Polo. Por ser um carro de entrada, os acabamentos são menos sofisticados, com plástico preto nos puxadores de portas e retrovisores e calotas nas rodas de 15″.

Por ter a mesma estrutura do Polo, as medidas se repetem: são 4,07 metros de comprimento, 1,47 m de altura, 1,75 m de largura e o principal, 2,57 m de entre-eixos, ou 10 cm a mais que no Gol. Essa também é uma grande vantagem sobre os rivais como Chevrolet Onix e Hyundai HB20, ambos com 2,53 m. Pode parecer pouco, mas essa distância diz muito sobre o espaço interno do carro, e 4 cm podem ser a diferença entre ficar mais ou menos apertado no banco de trás.

O porta-malas também cresce, mas não tanto: são 300 litros contra 285 l do veterano. Já o trem de força é o mesmo do Gol – que também é usado no Polo MPI -, formado pelo motor 1.0 de três cilindros que rende até 84 cv e 10,3 kgfm de torque e o câmbio manual de cinco marchas. Com esse conjunto o Polo Track chega aos 169 km/h de velocidade máxima e acelera de 0 a 100 km/h em 13,4 segundos (números com etanol).

Por dentro o acabamento é bem espartano, com muitas peças de plástico duro. Mas uma evolução importante está na lista de equipamentos, especialmente no quesito segurança. O novo hatch vem com quatro airbags (dois frontais e dois laterais), alerta de frenagem de emergência, assistente de partida em rampa, controle eletrônico de estabilidade (ESC), sistema Isofix para a fixação de cadeirinhas infantis, alerta de afivelamento do cinto de segurança para todas as posições e bloqueio eletrônico do diferencial.

O modelo tem ainda ar-condicionado, direção elétrica e travas e vidros dianteiros elétricos. Como condição especial de lançamento, as primeiras unidades do Track serão vendidas com um pacote (que será opcional mais adiante) que inclui rádio Media Plus, volante multifuncional, computador de bordo, duas entradas USB-C, quatro alto-falantes (em vez dos dois de série) e antena de teto. Central multimídia, por sua vez, não será oferecida nem como opcional.

Atrás do volante, a posição de dirigir é boa, mas poderia ser mais acertada se houvesse pelo menos um ajuste de altura para o volante. No geral, porém, o carrinho dá conta do recado pela robustez intrínseca do conjunto. Ele vai bem em situações de aceleração progressiva e é relativamente silencioso, especialmente em velocidades altas. Como tem um motor áspero, acaba sendo mais barulhento em rotações baixas.

Já em trechos íngremes, o bichinho sofre. É preciso fazer constantes trocas de marchas para extrair o melhor desempenho do carro, uma vez que ele perde o fôlego muito rápido quando é mais exigido e tem retomadas bastante lentas. Por outro lado, mesmo em ladeiras acentuadas ou pisos mais maltratados, ele não se inibe e demonstra a mesma valentia do antecessor. É preciso apenas um pouco de paciência.

No fim das contas, o Polo Track entrega o que promete, especialmente quando se pensa em um carro de entrada – mesmo que seja difícil aceitar que um “carro de entrada” custe hoje quase R$ 80 mil. E se a tradição quer dizer alguma coisa, o Gol pode descansar em paz. Seu substituto tem um desempenho à altura do que se imaginava para uma eventual evolução do modelo que fez parte da vida de muitos brasileiros. Inclusive da minha – e do meu saudoso pai.

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Fonte: direitonews

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