No fim de julho, Cássio chegou a 603 partidas com a camisa do Corinthians e se tornou o goleiro com o maior número de jogos pelo alvinegro. O fato reacendeu uma antiga discussão entre torcedores corintianos: quem é o maior goleiro da história do clube. Gylmar, Leão, Ronaldo, Dida. A lista de grandes jogadores que já defenderam a meta alvinegra é extensa, mas o atual titular da posição se colocou em um patamar privilegiado nos últimos anos.
Além de ser o goleiro com maior número de partidas, Cássio é o segundo no geral nesse quesito, atrás apenas do lateral Wladimir como o jogador que mais vestiu a camisa corintiana na história, com 806 aparições. Hoje, Cássio acumula 608 jogos pelo clube e superou Luizinho, que tem 606. Mas além desses números, o capitão alvinegro ostenta diversos títulos ao longo de seus dez anos na equipe.
Libertadores, Mundial de Clubes, Recopa Sul-Americana, Campeonato Brasileiro e Campeonato Paulista. São nove títulos ao longo desses anos, sendo quatro deles como capitão: o Brasileirão de 2017 e o tricampeonato paulista de 2017, 2018 e 2019.
Ronaldo Giovanelli, ídolo do clube e que detinha a marca de goleiro com o maior número de jogos disputados pelo Corinthians, conversou com o Estadão sobre essa questão. Para ele, que defendeu a meta alvinegra durante os anos 90, quando conquistou o primeiro Campeonato Brasileiro da história do time, a discussão tem uma resposta breve e direta.
“É o Cássio. O maior goleiro da história do Corinthians está jogando até hoje”, comentou Ronaldo. Ele avalia esse momento do companheiro, que voltou a ter um bom momento no Corinthians. “Ele ‘calou a boca’ de muitos críticos, que já enxergavam um fim de carreira para ele”, disse. “Cássio se compara a Rogério Ceni, Marcos, Fábio e até a mim mesmo, que já estavam sendo considerados como acabados pela mídia. A fase atual dele é uma das melhores da sua carreira”, acrescentou o goleiro.
Nos anos 1990, Ronaldo foi um dos símbolos da conquista do Campeonato Brasileiro de 1990 e da Copa do Brasil de 95, primeiras conquistas a nível nacional na história do clube. Quando deixou o Corinthians, o ex-goleiro afirma que não tinha noção da grandiosidade de sua história na equipe. “Não sabia do tamanho dos meus feitos até encerrar minha carreira. Eu sei que o Cássio passa por um sentimento semelhante hoje.”
Na comemoração da marca dos 604 jogos alcançados com a camisa do Corinthians, na partida contra o Botafogo no dia 30 de julho, Cássio recebeu diversas homenagens do clube e da torcida, como camisas especiais e um mosaico nas arquibancadas da Neo Química Arena, dedicado ao goleiro. Sua mulher revelou, após a partida, que um dos sonhos do marido era ser homenageado pela torcida.
“É muito legal ter esse reconhecimento, ser lembrado pelos nossos feitos, enquanto ainda vestimos a camisa de um clube. No caso do Cássio, a do Corinthians”, continuou Ronaldo. “Ser goleiro é uma das profissões mais difíceis que existem. Tem de ser o primeiro a entrar e o último a sair dos treinos. Fazer história nessa posição é histórico.”
“Carregar o time nas costas” é uma das funções que, segundo Ronaldo, é essencial para um goleiro, e Cássio cumpre com esse objetivo. Líder da quarta melhor defesa do Campeonato Brasileiro e com apenas sete gols sofridos na Libertadores, o jogador é uma das referências neste Corinthians, que sofre com problemas no ataque.
“Hoje ele (Cássio) ainda não vai ter noção da importância para a história do Corinthians, mas daqui 20 anos, quando olhar para seu passado, tenho certeza de que, assim como eu, vai se orgulhar da carreira”, completa Ronaldo.
OUTROS GOLEIROS
Raul Plassmann, um dos maiores goleiros da história do Cruzeiro e do Flamengo, bicampeão da Libertadores e Mundial entre os anos 70 e 80, afirma que Cássio é o maior goleiro da história, mas não o melhor. “Eu, como jogador, tenho uma opinião que o goleiro precisa ter dois atributos fundamentais: currículo de títulos e regularidade”.
Para o ex-goleiro, é indiscutível as conquistas do Cássio, campeão mundial, da Libertadores e Brasileiro pelo alvinegro e, para estas, foi preciso uma grande equipe à frente de sua meta. “Não adianta o goleiro fazer cinco grandes defesas durante o jogo se o ataque e a zaga não o auxiliarem”. No entanto, ele destaca uma certa irregularidade no desempenho do ídolo corintiano, em especial nos últimos anos. “Ele sofreu ameaças de torcedores nos últimos anos justamente pelo seu desempenho irregular”, afirma Raul.
“Gylmar dos Santos Neves é o melhor goleiro da história do Corinthians. Ronaldo Giovanelli é outro que também se destacou e foi regular durante sua carreira”, pontua o ex-goleiro, que foi comentarista da TV Globo na única vez que Ronaldo defendeu a seleção brasileira. “Foi em um amistoso contra a Alemanha, em Colônia”, contou.
Gylmar defendeu a meta corintiana entre 1951 e 1961. Além de defender a seleção brasileira em seu primeiro título mundial, em 1958, foi campeão paulista em três oportunidades pelo Corinthians (1951, 1953 e 1954) e da Pequena Taça do Mundo – torneio internacional de clubes disputado na Venezuela – em 1953.
Outro goleiro que também opina sobre essa questão é Gilmar Rinaldi, campeão mundial em 1994 com a seleção brasileira e ex-jogador do Internacional, São Paulo e Flamengo. Ex-diretor da CBF, ele afirma que a posição é a que mais evoluiu no futebol nos últimos anos – e Cássio participa dessa situação.
“Quando o goleiro participa do jogo, as jogadas ofensivas melhoram. Hoje eles são mais altos, mais ágeis e têm uma influência direta no desempenho em campo”, afirma. Para ele, a escola de goleiros brasileira passou a ser respeitada mundialmente após essas mudanças e evoluções da posição. “Alisson, Ederson, Weverton e Cássio, que disputou a Copa de 2018, são referências nessa posição atualmente”, pontua Rinaldi, que também tem o goleiro do Corinthians como o maior da história do clube. “Há outros nomes, como Dida, Carlos e Gylmar, que é uma referência para a história do futebol brasileiro, mas o Cássio se destaca nesta lista”.
Para Gilmar Rinaldi, Cássio se diferencia por ser o “goleiro dos grandes jogos”. “Ele raramente falha, menos ainda em jogos grandes ou decisivos. Para o time, é essencial ter essa segurança no gol”, afirma o ex-goleiro, mas avalia que, na qualidade, Cássio mostra um pouco de “dificuldade na mobilidade”. “Certamente quem critica o Cássio”, em referência às recentes ameaças que ele sofreu nos últimos tempos, “não é corintiano. Não consigo entender alguém que critica o Cássio, que é a alma do clube e sempre é decisivo”, pontuou. “Estes querem fazer mal à própria equipe”.