Americanas SA (AMER3), varejista brasileira que tem o bilionário Jorge Paulo Lemann entre seus principais financiadores, disse que seu CEO deixou o cargo após menos de duas semanas no cargo em meio a “inconsistências” com os números da empresa.
Sergio Rial, que comandou a unidade brasileira do Banco Santander SA entre 2016 e 2021, decidiu deixar a empresa sediada no Rio de Janeiro depois de identificar “inconsistências contábeis” estimadas em cerca de R$ 20 bilhões (US$ 3,9 bilhões) e vinculadas ao financiamento de seus fornecedores, de acordo com um documento regulatório divulgado na quarta-feira. O diretor financeiro Andre Covre também decidiu sair, informou a empresa.
A Americanas, cujo valor de mercado atualmente é de 11 bilhões de reais, disse que espera que o impacto no caixa dessas inconsistências seja imaterial, embora tenha acrescentado que ainda não pode determinar o impacto das descobertas em seu balanço.
Rial será substituído temporariamente por João Guerra, que também assumirá a função de diretor de relações com investidores da Covre. O conselho de administração da Americanas criou um comitê independente para investigar a situação.
Lemann e seus parceiros de negócios de longa data, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, colocaram dinheiro na varejista brasileira pela primeira vez em 1982. Eles atualmente possuem uma participação de cerca de 31% e disseram ao conselho que planejam continuar apoiando a empresa, de acordo com o processo.
Lemann é a 70ª pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido de US$ 21,6 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.
Risco de falência?
XP Investimentos, Bradesco BBI, Banco Safra e Itau BBA colocaram a Americanas em revisão após a notícia, enquanto analistas do Morgan Stanley dizem que uma reviravolta operacional esperada ficou nublada.
“Estamos revendo nossa cobertura da Americanas dada a falta de visibilidade sobre o que realmente aconteceu e os reais impactos a serem vistos nas demonstrações financeiras da empresa”, disseram analistas da XP Investimentos.
Eles acrescentaram que a saída de Rial pode ser vista como um alerta de mais riscos à frente, mencionando também possíveis ações judiciais nos Estados Unidos, já que a Americanas tem American Depositary Receipts negociando no país.
Espera-se que Rial discuta as descobertas em uma teleconferência com investidores organizada pelo BTG Pactual na quinta-feira.
Analistas do Itaú BBA disseram esperar que as ações sofram significativamente na quinta-feira. As ações da Americanas encerraram 2022 com queda de 68,7%, mas desde então subiram cerca de 24%, impulsionadas pela nova gestão.
Analistas do Santander e do JPMorgan, que classificaram a Americanas como “neutra” e “abaixo do peso” respectivamente, também projetaram uma grande reação negativa após a notícia.
“Em suma, vemos a situação do fluxo de caixa da empresa, razão pela qual recentemente rebaixamos as ações para UW, muito mais delicada do que o previsto”, disse o JPMorgan.
Fonte: capitalist