80 anos do Dia da Vitória na China: por que Pequim adotou o dia 3 de setembro para celebrar triunfo?


Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas detalham especificidades que fazem o Dia da Vitória celebrado na China diferente de outros marcos e triunfos na Segunda Guerra Mundial.

“O dia 3, o Dia da Vitória, também é chamado lá de Dia da Vitória da guerra de resistência do povo chinês contra a agressão japonesa”, comenta Letícia Simões, doutora em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Uma particularidade importante, portanto, se encontra na medida em que o teatro de guerra no Leste Asiático se confunde com a Segunda Guerra Mundial. No caso da China, por exemplo, o país vivia o chamado século da humilhação e lutava contra a invasão japonesa na região da Manchúria desde 1931. Foram 14 anos de combate até a rendição do Império Japonês no dia 2 de setembro.
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“A escolha do dia 3, setembro, e não do dia 2 [celebrado pelos EUA], que é o dia da rendição, é uma maneira de se desvincular um pouco desse storytelling, dessa história oficial ocidental, e chamar um pouco mais de atenção para essa vitória, que também foi uma vitória de resistência do povo chinês“, ressalta a analista.
Segundo Rodrigo Abreu, doutorando em relações internacionais na UFSC e mestre em estudos estratégicos pela Universidade Federal Fluminense (UFF), pouco se fala sobre o papel da China na contenção dos japoneses.
“É muito importante a gente ressaltar o quão crucial foi essa resistência da China pra limitar os recursos que o Japão poderia utilizar até contra os Estados Unidos ali naquela guerra naval”, comenta o especialista.
Naquele contexto, a China passava por uma guerra civil entre nacionalistas e comunistas e foi necessário um “armistício” para derrotar o inimigo externo.
“A vitória da Segunda Guerra Mundial é como se fosse um checklist ali que seria necessário pra, eventualmente, a China unificar todo o seu território e, de fato, dar fim a esse chamado século de humilhação“.

Desfile do Dia da Vitória tem Xi Jinping, Putin e Kim Jong-un lado a lado

Na praça da Paz Celestial, em Pequim, a China exibiu ao mundo seu desfile militar em celebração ao Dia da Vitória. Quem assistiu o cortejo, pôde ver inovações entre tanques, drones, helicópteros e mísseis — especialmente o míssil balístico intercontinental Dongfeng 5 (DF-5C), apresentado durante a solenidade.
O presidente chinês, Xi Jinping, em seu discurso à nação, expressou gratidão aos veteranos de guerra e afirmou que “o povo chinês “permanece firmemente do lado certo da história”.
© AP Photo / Andy WongO presidente chinês Xi Jinping inspeciona as tropas antes de um desfile militar para comemorar o 80º aniversário da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial.

O presidente chinês Xi Jinping inspeciona as tropas antes de um desfile militar para comemorar o 80º aniversário da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. - Sputnik Brasil, 1920, 03.09.2025

O presidente chinês Xi Jinping inspeciona as tropas antes de um desfile militar para comemorar o 80º aniversário da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial.
A celebração também contou com a presença do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e do mais alto líder da República Popular Democrática da Coreia, Kim Jong-un. Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, não compareceu ao desfile, mas esteve na China nesta semana de solenidades para participar da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX).
Conforme relembra Simões, é a primeira vez em mais de 60 anos que um líder norte-coreano participa de uma parada militar no território da China continental. “A última vez foi na República Popular da China”, disse, destacando que esse foi o avô de Kim Jong-un, em 1959.
Em relação ao recado passado pelo evento organizado pelos chineses, a analista nota que Xi Jinping se empenha em passar o papel “de um líder diplomático e, claro, de um líder que está olhando para o seu entorno, para o fortalecimento de uma região que não é o Ocidente, para buscar esse protagonismo que ele já vem alcançando enquanto líder e, claro, como líder da China”.
© Sputnik / Aleskandr KazakovCúpula da SCO 2025. Segundo dia

Cúpula da SCO 2025. Segundo dia - Sputnik Brasil, 1920, 03.09.2025

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Já Abreu destaca que, no contexto do evento, o recado passado ao mundo no contexto do evento em registros que mostram Putin, Xi e Modi juntos é ressaltar que “um terço da população global e 20% do PIB mundial” estiveram reunidos e que, segundo ele, o principal ponto, “a mensagem de que a Rússia não está isolada do mundo”.
“Muitos líderes ocidentais e europeus recusaram ir à parada militar na China por conta da presença do Putin. E mesmo assim, a China optou por manter, sustentar o convite ao Putin e desconvidar, entre aspas, os líderes europeus. Ou seja, se a motivação estava clara de que os líderes europeus não iriam por conta do Putin, a China escolheu manter o convite ao Putin”, completa.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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